Um grunhido (Divulgação)
Ai, Saramago…
Publicado em 10 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Mais dia, menos dia, o X poderá ser acessado por qualquer um com um smartphone na palma da mão, cá em Terra Brasílis. O pagamento de R$ 28,6 milhões em multas e a indicação de um representante legal sanaram as pendências judiciais da plataforma no país.
Lá se vão 40 dias sem lacração e fake news em bom português brazuca no habitat da extrema direita tupiniquim. Resta saber se, após tanto tempo, o X ainda faz falta para alguém com mais de 140 caracteres no juízo.
Acho graça no rabo entre as pernas do empresário Elon Musk. Podre de rico, o dono do X foi obrigado a se conformar com o imprevisto de inesperado limite. A força da grana pode muito, pode mandar um homem à lua, ele bem sabe. Mas não lhe permitiu entrar e sair daqui quando bem entendesse, como se a República fosse a casa da mãe Joana.
Logo ele, um colonizador sideral, constrangido a pedir licença, obrigado a limpar os pés no tapete, humilde como um pedinte, obediente como um coroinha. Imagino o bilionário de cabeça baixa e não me contenho, arreganho os dentes em boa gargalhada, morto de satisfação, a alma lavada pelo deboche.
Não, o X não deveria ser habitado por ninguém, nenhum palpiteiro de carne e osso. Folheio livro publicado por Cezar Britto, advogado de competência inquestionável, uma compilação de posts apressados, com a densidade própria do antigo Twitter. Passo a vista sobre as páginas do volume e percebo ali a influência nefasta do meio, como a evocar Saramago: “De degrau em degrau, descemos ao grunhido”.