Quinta, 26 De Dezembro De 2024
       
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Ainda há tempo para a sensatez e a solidariedade


Publicado em 01 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* José Medeiros
Preocupa-me a insensatez de alguns governos estaduais e outras autoridades políticas do Brasil. Rodeados de pessoas, em lugares abertos ou fechados, não têm nem mesmo o cuidado de usarem máscaras de proteção, para assim passarem uma mensagem clara sobre a importância de se proteger e ajudar a deter a expansão do coronavírus (Covid-19). Assim, desmascaradamente, aproveitam-se desse momento doloroso para fazerem marketing político e avançarem em seus projetos pessoais de poder.
Preocupa-me muito as muitas declarações insensatas do presidente do Brasil e de muitos que o rodeiam, tentando minimizar a força destrutiva desse vírus, tanto no sentido econômico quanto na saúde mental e física da população.
Há praticamente três meses, esse vírus roda o mundo, isolando pessoas e cidades, fechando fronteiras, adiando grandes eventos esportivos e ceifando vidas. Muitas vidas. Não é mais tempo de minimizá-lo e achar que no Brasil sua expansão e seu impacto tenderão a ser diferente de muitos outros países pelo simples fato de felizmente sermos um país com muito sol e de muita fé.
Preocupa-me também a insensatez de grande parte da mídia brasileira, especialmente a televisiva, que usa da informação apenas como ponto de apoio para promover o sensacionalismo e alardear o medo. 
Assim como muitos políticos, os repórteres que atuam nas coletivas de imprensa ou na cobertura das ruas aparecem quase sempre sem máscaras. Desprotegidos, passam à população uma mensagem dúbia, mesmo quando transmitem informações relevantes.
Isso era algo impensável aqui na cobertura da televisão chinesa durante todo processo de combate ao coronavírus, onde até mesmo dentro dos estúdios, no exercício diário de informar a população, os apresentadores dos telejornais não tiravam do rosto as suas máscaras protetoras.
Aliás, esse comportamento, tanto dos políticos quanto da mídia, já era algo muito previsível. No dia 27 de janeiro de 2020, quando a crise do coronavírus ainda estava circunscrita à China, foi publicado nessa coluna um pequeno artigo onde eu assim prognosticava: 
"Tenho imaginado como nos comportaríamos no meu querido Brasil diante de uma situação difícil como essa… Provavelmente, estaríamos dentro de casa sufocados por coberturas sensacionalistas em busca de "likes" e de uma fácil audiência. Por outro lado, o governo estaria pressionado por diversos grupos econômicos para que não tomasse as decisões necessárias, para que os mesmos não fossem economicamente prejudicados" (A China sairá mais forte dessa grande batalha contra o coronavírus, Portal Vermelho, 27/01/2020).
Preocupa-me, sobremodo, a colocação desse falso dilema, entre isolar a população e manter a economia funcionando. Se não fosse trágico, seria irônico ver nesse embate a ressureição da velha teoria Humanitas tão bem explicada por Quincas Borba ao seu discípulo Rubião: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas" (Machado de Assis).
Na verdade, é preciso que todos sejam protegidos, tanto os que podem ficar em casa quanto os que precisam sair de casa para buscar mantimentos, resolver outros problemas ou trabalhar para manter em funcionamento os serviços vitais do país, evitando que o mesmo seja também asfixiado. E essa proteção já é possível. Aos que saem de casa, no mínimo precisam usar máscaras. Estariam os governos e nossas empresas produzindo ou providenciando máscaras suficiente para essa demanda?
Sabemos que nem toda população poderá ficar o tempo todo trancada e nem toda economia terá como parar de funcionar. Deve-se evitar os extremismos e encontrar um ponto de equilíbrio onde possamos proteger tanto a nossa população quanto o nosso país.
E como o nosso país é grande e diverso, não se deve apostar em nenhuma panaceia que possa ser igualmente aplicada ao mesmo tempo e em todos os lugares. Mas qualquer decisão tem que ser orientada por especialistas e não pelo medo ou por arroubos políticos.  
Talvez fosse o momento de se criar comitês virtuais (ou algo semelhante) que reúnam pesquisadores e especialistas da área de saúde e de diversas outras áreas para analisar a evolução da situação em cada estado, grande região e municípios e propor medidas mais adequadas visando proteger o povo e o país.
Nessa perspectiva, as nossas universidades públicas poderiam assumir esse protagonismo. Quanto mais independente dos governos (mesmo colaborando com estes), as análises e sugestões consensuais de um conjunto de especialistas passariam uma mensagem de orientação mais crível para a nossa população.
O momento exige os esforços de todos. A proteção deve ser buscada com base na ciência e na solidariedade. Ainda há tempo para a sensatez. Nosso país e o nosso povo precisam. 
*José Medeiros, potiguar, natural de Touros (RN), é doutor em Ciência Política e professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang – Hangzhou, China.

* José Medeiros

Preocupa-me a insensatez de alguns governos estaduais e outras autoridades políticas do Brasil. Rodeados de pessoas, em lugares abertos ou fechados, não têm nem mesmo o cuidado de usarem máscaras de proteção, para assim passarem uma mensagem clara sobre a importância de se proteger e ajudar a deter a expansão do coronavírus (Covid-19). Assim, desmascaradamente, aproveitam-se desse momento doloroso para fazerem marketing político e avançarem em seus projetos pessoais de poder.
Preocupa-me muito as muitas declarações insensatas do presidente do Brasil e de muitos que o rodeiam, tentando minimizar a força destrutiva desse vírus, tanto no sentido econômico quanto na saúde mental e física da população.
Há praticamente três meses, esse vírus roda o mundo, isolando pessoas e cidades, fechando fronteiras, adiando grandes eventos esportivos e ceifando vidas. Muitas vidas. Não é mais tempo de minimizá-lo e achar que no Brasil sua expansão e seu impacto tenderão a ser diferente de muitos outros países pelo simples fato de felizmente sermos um país com muito sol e de muita fé.
Preocupa-me também a insensatez de grande parte da mídia brasileira, especialmente a televisiva, que usa da informação apenas como ponto de apoio para promover o sensacionalismo e alardear o medo. 
Assim como muitos políticos, os repórteres que atuam nas coletivas de imprensa ou na cobertura das ruas aparecem quase sempre sem máscaras. Desprotegidos, passam à população uma mensagem dúbia, mesmo quando transmitem informações relevantes.
Isso era algo impensável aqui na cobertura da televisão chinesa durante todo processo de combate ao coronavírus, onde até mesmo dentro dos estúdios, no exercício diário de informar a população, os apresentadores dos telejornais não tiravam do rosto as suas máscaras protetoras.
Aliás, esse comportamento, tanto dos políticos quanto da mídia, já era algo muito previsível. No dia 27 de janeiro de 2020, quando a crise do coronavírus ainda estava circunscrita à China, foi publicado nessa coluna um pequeno artigo onde eu assim prognosticava: 
"Tenho imaginado como nos comportaríamos no meu querido Brasil diante de uma situação difícil como essa… Provavelmente, estaríamos dentro de casa sufocados por coberturas sensacionalistas em busca de "likes" e de uma fácil audiência. Por outro lado, o governo estaria pressionado por diversos grupos econômicos para que não tomasse as decisões necessárias, para que os mesmos não fossem economicamente prejudicados" (A China sairá mais forte dessa grande batalha contra o coronavírus, Portal Vermelho, 27/01/2020).
Preocupa-me, sobremodo, a colocação desse falso dilema, entre isolar a população e manter a economia funcionando. Se não fosse trágico, seria irônico ver nesse embate a ressureição da velha teoria Humanitas tão bem explicada por Quincas Borba ao seu discípulo Rubião: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas" (Machado de Assis).
Na verdade, é preciso que todos sejam protegidos, tanto os que podem ficar em casa quanto os que precisam sair de casa para buscar mantimentos, resolver outros problemas ou trabalhar para manter em funcionamento os serviços vitais do país, evitando que o mesmo seja também asfixiado. E essa proteção já é possível. Aos que saem de casa, no mínimo precisam usar máscaras. Estariam os governos e nossas empresas produzindo ou providenciando máscaras suficiente para essa demanda?
Sabemos que nem toda população poderá ficar o tempo todo trancada e nem toda economia terá como parar de funcionar. Deve-se evitar os extremismos e encontrar um ponto de equilíbrio onde possamos proteger tanto a nossa população quanto o nosso país.
E como o nosso país é grande e diverso, não se deve apostar em nenhuma panaceia que possa ser igualmente aplicada ao mesmo tempo e em todos os lugares. Mas qualquer decisão tem que ser orientada por especialistas e não pelo medo ou por arroubos políticos.  
Talvez fosse o momento de se criar comitês virtuais (ou algo semelhante) que reúnam pesquisadores e especialistas da área de saúde e de diversas outras áreas para analisar a evolução da situação em cada estado, grande região e municípios e propor medidas mais adequadas visando proteger o povo e o país.
Nessa perspectiva, as nossas universidades públicas poderiam assumir esse protagonismo. Quanto mais independente dos governos (mesmo colaborando com estes), as análises e sugestões consensuais de um conjunto de especialistas passariam uma mensagem de orientação mais crível para a nossa população.
O momento exige os esforços de todos. A proteção deve ser buscada com base na ciência e na solidariedade. Ainda há tempo para a sensatez. Nosso país e o nosso povo precisam. 

*José Medeiros, potiguar, natural de Touros (RN), é doutor em Ciência Política e professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang – Hangzhou, China.

 

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