Além do verbo

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

No escuro de minha cachola, tenho solução para todos osproblemas do mundo. Desde a guerra e a fome, até o preço da gasolina. Os antigos já diziam: Viola de boca é boa de tocar.
Penso no inferno das boas intenções, na dificuldade de trazer uma ideia à flor brutada matéria, pôr mãos à obra, realizar. Sim, no início há o verbo. Depois, no entanto, é preciso moldar a fagulha da ideia em brasa às exigências das circunstâncias. Em cada gesto que vinga, vislumbra-selegiões de membros amputados. Em cada escolha, uma renúncia.
Falar é fácil. Ontem mesmo, sentado à mesa do bar, concebi a mais fabulosa programação festiva, a fim de celebrar o aniversário de 168 anos de Aracaju. Em meu delírio, gregos e troianos ganharam palco. A cidade inteira, desde o Bugio até o bairro 17 de março, ardeu em festa e euforia.
Num passe de mágica, num estalar de dedos, tudo estava pronto. A cada artista capaz de malabarismos no semáforo foi concedido 15 minutos de fama. Das panelinhas em que se ferve o caldo ralo servido pelos influentes e bem relacionados, então, transbordaram todos os aplausos, tapinhas nas costas, vivas, aleluias.
Da boca pra fora, basta querer. Coração puro e determinação forte movem o mundo, assim pregam as histórias da carochinha. Se a Funcaju do prefeito Edvaldo Nogueira não faz da capital segipana um lugar encantado, uma ilha de fantasia, como foi cobrado por gente repleta de segundas e terceiras intenções de plantão nas redes sociais, certamente se ocupa de questões de ordem prática, com o propósito de festejar acidade junto aos seus cidadãos, gente trabalhadora, homens e mulheres de carne e osso, cativos de alegria palpável, sem veleidades de tanto imaginar.