A vereadora eleita Linda Brasil
A VEREADORA ELEITA LINDA BRASIL
Publicado em 06 de dezembro de 2020
Por Jornal Do Dia
A vereadora eleita Linda Brasil
A VEREADORA ELEITA LINDA BRASIL
Ela não foi apenas a mais votada das eleições municipais desse ano em Aracaju. Contabilizando 5.773 votos, a educadora e ativista LGBTQIA+, Linda Brasil (PSOL), é a primeira mulher trans eleita vereadora na capital sergipana, e a mulher candidata a um mandato legislativo municipal mais bem votada da história do estado de Sergipe. Em conversa com o JORNAL DO DIA, ela revelou o desejo de punição aos agressores que desde a confirmação de sua vitória democrática nas urnas passaram a ameaçá-la de morte, bem como destacou o foco em promover uma ‘mandata’ participativa e eficiente em todos os seguimentos administrativos. Diante da repercussão positiva em todos os municípios sergipanos, Linda Brasil passou a ser assediada para uma candidatura em 2022. Sobre o assunto, ela agradeceu ao carinho recebido, mas destacou que ainda não é o momento ideal para este debate.
JORNAL DO DIA – Já presente na história de Aracaju por ter sido a primeira mulher trans eleita na capital sergipana, paralelamente foi a mais votada. O que os aracajuanos podem esperar dos seus quatro anos de mandato legislativo?
LINDA BRASIL – Não tenham dúvidas que será uma ‘mandata’ com muita determinação e com o foco em ajudar a sociedade aracajuana para que todas as pessoas possam se sentir representadas e que realmente eu possa com essa determinação provocar transformações efetivas na política de Sergipe. A minha eleição já é um sinal dessa mudança tão necessária para a nossa sociedade; representa a ocupação de espaços que sempre foram negados, em especial para as comunidades LGBTQIA+, as mulheres e a população negra. Posso garantir que a população aracajuana com certeza vai ter uma ‘mandata’ combativa e que realmente pensa e age à favor das classes trabalhadoras, nos direitos humanos principalmente àquelas pessoas que mais precisam das políticas públicas.
JD – Logo após a confirmação da vitória democrática nas urnas o seu nome foi enaltecido em todo o país como símbolo de resistência e defesa das minorias. A responsabilidade aumenta diante deste reconhecimento; como pretende agir para fazer valer cada voto conquistado?
LB – Realmente, não apenas de ter sido eleita a primeira mulher trans, mas também a mais votada entre mais de 700 candidatos e candidatas, mas também por ter sido a mulher mais votada em toda a história democrática para vereadora de Aracaju. Não tenham dúvidas que a responsabilidade é, de fato, muito grande e por isso eu me sinto cada vez mais comprometida em fazer o trabalho exemplar e diferenciado; jamais reproduzindo a política que por décadas foi construída com tanta exploração, opressão e com tanto silenciamento de pessoas que precisavam ocupar esses espaços, como é o caso da mulher. A política foi construída baseada através de um olhar patriarcado, machista, misógino, LBGTfóbico e racista. Essa nossa eleição é um sopro de respiro nesse momento difícil que estamos vivenciando no Brasil com o aumento de ideias racionarias, de discurso de ódio. Sendo assim, uma pessoa que foi eleita através de uma campanha feita com muita verdade, alegria, amor e diversidades, isso é um marco muito importante para a política regional, nacional e internacional. Essa nossa vitória vai reverberar todo o mundo, e, quem sabe, motivar outras pessoas a pleitear espaços de decisões da política.
JD – Após ser eleita, Linda Brasil se tornou alvo de ataques transfóbicos. Essa semana o setor de inteligência da Polícia Civil identificou autores. O que a senhora espera deste caso a partir de agora?
LB – Que essas pessoas sejam punidas. Esse tipo de perfil acaba incentivando que outras pessoas fanáticas acabem provocando ataques contra a vida física de pessoas LGBTQIA+. Todos os assassinatos envolvendo um LGBTQIA+, em especial as pessoas transexuais e travestis apresentam um requinte de crueldade motivada pelo fanatismo religioso, usando discursos distorcidos da bíblia para tentar justificar o ódio dessas pessoas. Então é muito complicado e problemático esses ataques. Espero que as pessoas sejam punidas, e com isso outras pessoas não sejam legitimadas para cometer qualquer que seja o ataque criminoso e descabido contra a população LGBTQIA+.
JD – Ao longo dos últimos anos o JORNAL DO DIA tem acompanhado mais de perto a luta da comunidade LGBT pela sobrevivência. Na última sexta-feira (04), a senhora debateu a questão da violência transfóbica. Como representante na Câmara de Aracaju, é possível visualizar um breve futuro com menores índices de periculosidade?
LB – Eu acredito muito que teremos uma ‘mandata’ diferenciada até pela denominação no feminino, como uma forma de dizer que a gente não vai reproduzir esse modelo de política que está aí, mas também pela visibilidade que nós teremos. Digo isso porque teremos uma ‘mandata’ construída de forma coletiva, participativa, com várias pessoas que compõem e de forma justa também se sentem vitoriosas, as pessoas que fizeram campanha, até mesmo candidatos que se elegeram e se solidarizaram ao nosso nome porque sabem da importância da nossa causa. Da mesma forma que teve essa repercussão internacional, também esperamos que esse momento possa gerar uma reflexão na sociedade, debates, e que assim possa de uma certa forma diminuir a violência que a população LGBTQIA+, principalmente as trans e travestis que em um país como o Brasil possuem uma expectativa de vida de 35 anos, sendo o país que mais mata essa comunidade no mundo.
JD – Ainda no que se refere à sua ação parlamentarista, durante a sua ‘mandata’ – conforme enaltece -, há previsão de estreitamento das lutas LGBTs com a Guarda Municipal de Aracaju?
LB – Sim, a gente possui projetos pensando sobre isso, em especial o fortalecimento do programa que envolve a Patrulha Maria da Penha. Entendemos que se pode ampliar as discussões gerais sobre esses temas, a segurança pública juntamente com a educação e a saúde, com os direitos humanos para que a gente tenha ações que sejam desenvolvidas em redes. Essa é uma forma para que não apenas a segurança pública se sinta responsável pela diminuição da violência; no meu observar, isso se trata de um trabalho coletivo onde várias secretarias devem trabalhar e pensar políticas públicas de forma multiprofissional para que seja conquistado a eficácia. Temos um projeto bem elaborado não apenas para a Guarda Municipal, mas também para todos os setores que envolvem servidores públicos da nossa querida Aracaju. Nosso foco, nesse sentido, é que todos os servidores possam saber atender a população aracajuana de forma diferenciada, respeitando a diversidade e singularidade de cada contribuinte.
JD – Diante da expressiva votação, já existem grupos fora de Aracaju apoiando o seu nome para candidatura no legislativo estadual. Existe essa possibilidade?
LB – Eu não quero pensar nisso, apenas no futuro, quem sabe. O meu pensamento agora é fazer minha ‘mandata’ de forma diferenciada, de forma que eu realmente possa fazer jus a tantos votos, a tanta confiança. Eu quero fazer uma gestão que seja importante e significativa, em especial, envolvendo projetos e políticas públicas para as pessoas que mais precisam. Isso focado em pautas como a educação que é primordial para mim; sou mestra em educação e acredito que a educação inclusiva pode transformar a cidade e o futuro dos nossos jovens para melhor. Os direitos humanos, a saúde, o transporte, a questão da moradia digna para todas as pessoas, e essa é uma das minhas prioridades também. Isso sem deixar de falar do meio ambiente; eu quero pensar nisso, pontualmente nisso, e deixar o debate de 2022 para o período certo. Agora eu estou focada nessa ‘mandata’ que será histórica e muito significativa para a política de Aracaju e do Brasil em geral.