Anti-herói protagoniza enredo inspirado no cangaço
Publicado em 16 de julho de 2021
Por Jornal Do Dia
Embebido nas referências do sertão nordestino, o escritor sergipano Aroldo Veiga apresenta, em Trono de Cangalha, a história de um garoto que nasceu na caatinga e, na vida adulta, leva para a zona urbana a luta iniciada por seus antepassados. No enredo, o cangaço é abordado de forma indireta, por meio de analogias e das memórias do protagonista.
Quando criança, Laércio Ramalho deleitava-se com as histórias contadas com proeminência por sua avó, dona Violeta. Jesuíno Brilhante, Lampião, Corisco e Dadá eram, de fato, os únicos heróis na infância do menino nascido em Cansanção, uma pequena cidade do sertão baiano. Não é possível mensurar o quanto esses personagens influenciaram a sua trajetória, mas o fato é que Laércio empunhou armas e, assim como eles, também enfrentou as forças do governo.
Com uma trama que se desenrola nas décadas de 1960, 70 e 80, a ficção tem como pano de fundo alguns fatos recentes da história do país, a exemplo do AI-5 e da Guerrilha do Araguaia, estendendo a trama para outras regiões do país. Violência doméstica, solidão urbana, abandono materno e desobediência civil são temas presentes. As abordagens, densas, cedem lugar a contornos suaves em um romance tão comovente quanto o seu desfecho.
Aroldo Veiga é apreciador de obras referenciais contemporâneas como "Travessuras da menina má", "Memória de minhas putas tristes" e "Os Desvalidos". As preferências denotam a originalidade trazida pelo autor em seu romance de estreia, e evidenciam ainda um fino trato com a linguagem. Na escrita fluida e envolvente, o leitor vai encontrar palavras inusitadas para o vocabulário contemporâneo, um requinte a conta gotas, diluído em 240 páginas.
Sobre o autor: Aroldo Veiga nasceu em Aracaju. Graduou-se em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe. Fez especialização em Língua, Linguagem e Literatura pela Universidade Tiradentes. Atualmente trabalha como professor na rede pública de ensino. Trono de Cangalha é a sua primeira produção literária.