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AS AVENTURAS DE SESTROSI
Publicado em 07 de setembro de 2014
Por Jornal Do Dia
Como vimos no capítulo anterior, Sestrosi transformou-se num personagem importante que influía muito na vida política e nos negócios de Florença. Conquistou essa posição preeminente mesmo após as peripécias acontecidas com a sua empresa, a Camelos Leva e Traz e do golpe que aplicou no incipiente sistema financeiro da cidade Estado.
Circulando pelos palácios onde participava das festas frequentes e dos negócios que começavam a se expandir numa era de euforia econômica onde se ganhava muito dinheiro com as expedições marítimas e o tráfico de escravos, Sestrosi, compreendendo que para ele próprio não seria fácil ocupar o cargo mais importante do pequeno porém florescente país, criou então um personagem, Dependosi, que viria a ser o seu sócio em todas as empreitadas, e merecedor da sua absoluta confiança. Ele teria maiores chances de ser aceito pela elite aristocrática da cidade, também interessada nos negócios lucrativos dos quais participariam quando o poder fosse alcançado por Sestrosi e todos compartilhassem os cofres florentinos. Dependosi, era sujeito tímido, um tanto sem jeito, todavia muito obediente e disciplinado.
Sestrosi começou a trabalhar os personagens mais influentes da política e dos negócios, para que eles se juntassem e indicassem Dependosi para administrar Florença. Naquele tempo não existiam eleições, os cargos eram preenchidos por indicação de uma elite restrita. E Sestrosi conseguiu convencer essa elite a dar-lhe apoio e levar Dependosi a sentar na cadeira mais importante e vistosa, no maior e mais fulgurante palácio da cidade. Nesse ponto os arquivos, os livros sobre a história florentina deixam uma dúvida, pois há neles duas versões contraditórias: a primeira delas seria que Sestrosi falhou naquele trabalho de sedução e convencimento, e Dependosi não conseguiu subir todos os degraus da simbólica escada do poder, deixando frustrados e revoltados os comparsas que se consideraram enganados. A outra versão narra o sucesso de Sestrosi, que teria sido levado com festas e muita pompa seu sócio Dependosi a ocupar o palácio principal.
Instalado nas amplas dependências da enorme edificação, logo se viu Dependosi confinado apenas a uma sala, porque as demais dependências foram tomadas e ocupadas por Sestrosi . Rapidamente ele montou um esquema para controlar a cobrança dos impostos. Não satisfeito com a arrecadação, Sestrosi foi aumentando as taxas, até a que se cobrava pela comercialização do trigo e fabricação do pão. O alimento tornou-se caro e escasso, a população dia a dia se tornava mais insatisfeita, enquanto se multiplicavam os indícios de que Sestrosi enriquecia sempre mais, já possuía grandes feudos e castelos espalhados desde as colinas da Toscana até a distante Lusitânia e o Reino de Castela. O povo florentino empobrecia, até a guarda palaciana ficou sem receber seus salários. Um dia os guardas revoltados saíram a caçar Sestrosi, mas não o encontraram. Soube-se, depois, que ele escapara à frente de um grupo numeroso de cavaleiros e de carroças conduzindo ouro, prata, moedas, joias e obras de arte, e já estaria a atravessar os Alpes numa difícil jornada, porque fazia muito frio, e a neve era espessa. Há duvidas sobre essa travessia. Para alguns autores, Sestrosi conseguiu cruzar os Alpes, chegou à planície francesa e lá se instalou. Assenhoreou-se de um castelo, formou um grupo armado e começou a assaltar viajantes pelas estradas, também armou navios para piratas bucaneiros que saíram pelos mares do mundo em busca de presas fáceis . Não tendo encontrado Sestrosi para torcer-lhe o pescoço, os guardas revoltados, enfurecidos pela fome que eles e suas famílias passavam, foram achar Dependosi debaixo de uma enorme cama recoberta por lençóis de seda do oriente. Sobre o trucidamento do trêmulo e apavorado Dependosi pela guarda rebelada, não restaram relatos confiáveis. Assim, a respeito dos trágicos acontecimentos, não há detalhes.