Terça, 14 De Janeiro De 2025
       
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As "presas" somos nós


Publicado em 01 de maio de 2018
Por Jornal Do Dia


 

* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
 
Desde a eleição de 1989 – a primeira, 
após o Regime Militar, em que os cida-
dãos brasileiros aptos a votar escolheram seu Presidente da República – não víamos aparecer tantos possíveis candidatos ao cargo executivo maior do Brasil. Naquela oportunidade, 22 candidatos à Presidência concorreram na eleição. Tivemos candidatos pra todos os gostos, até mesmo para os que apreciam as fantasias bizarras.
Era um momento novo, a Democracia brasileira, tão sonhada nas lutas populares, parecia tornar-se realidade. Mas aquele período trazia também a marca da fragilidade e das incertezas, disfarçadas de esperanças.
Agora, passados 29 anos, qualquer cidadão brasileiro – exceto aqueles que "as ideologias" (entre aspas mesmo) já lhes corromperam a capacidade cognitiva – compreende que pouco aprendemos sobre Democracia, confundida com a liberdade de qualquer um fazer o que quiser e onde quiser, sem respeitar o direito do coletivo, rompendo de forma grotesca e submissa aos interesses pessoais com aquilo que o grande filósofo ‘Jean-Jacques Rousseau’ intitulou "O contrato social".    
E novamente ‘o país naufraga num mar de desesperança e descrédito com a classe política’, e o cidadão comum parece ter perdido o interesse por exercer o seu direito à ‘Cidadania’, que, aliás, esconde-se na obscuridade. A palavra ficou obsoleta, perdida no tempo, na saudade das boas aulas de ‘Educação Moral e Cívica’ e ‘Organização Social e Política Brasileira’, "decapitadas" da grade curricular tão somente por terem sido implantadas durante o Regime Militar, sem qualquer avaliação despretensiosa e descomprometida da sua importância para a formação cidadã do povo brasileiro.
E é com tristeza que ouvimos diariamente pessoas de todas as camadas sociais e idades afirmando não mais se importarem com eleições. Muitos idosos dizem: "Eu não sou mais obrigado a votar. O que é que eu vou fazer lá? Dar meu voto pra quem não merece? Vou nada!". Alguns, mais jovens, programam seu dia na praia, no sítio ou simplesmente um churrasquinho em casa com os amigos, e, sem o menor ‘pudor’, afirmam: "Depois eu vou lá no TRE, justifico a ausência, pago a multa e tá resolvido".  
A que ‘caos’ chegamos! Como lamento tudo isso. Como lembro com respeito de meu pai, o ‘Memorialista Raymundo Mello’, e de tantos outros da sua idade, que, independente de ideologias, tinham o ‘dia da eleição’ como um ‘dia sagrado de devoção à nação’.
Como é saudável ir votar e encontrar a ‘Professora Verônica Maria Menezes Nunes’, o ‘Monsenhor José Carvalho de Souza’, a ‘Senhora Conceição Luduvice’, o ‘Dr. João Oliva Alves’, o ‘Professor Jouberto Uchôa de Mendonça’, o ‘Memorialista Murillo Melins’, o ‘Professor Vilder Santos’ e tantos outros, cujos nomes inspiram dignidade, honradez, respeito pelo país, e que, a cada dois anos, lá estão, cumprindo com responsabilidade o seu dever cívico.  
Mas ‘civismo’ parece uma palavra abolida dos dicionários na sociedade contemporânea. Não! Desculpem-me. Dos dicionários, jamais. Das consciências.
Voltando ao assunto primeiro: aí estão, "desfilando", um já sem número de pré-candidatos. Cada um lançando-se pra ‘ver-no-que-dá’, ‘tirando-uma-casquinha’ deste mais recente momento de ‘fragilidade democrática’. É claro que daqui até o prazo final para o registro das candidaturas, muita gente ‘sai-de-cena’ ou entra num novo papel, tudo garantido pelos famosos ‘conchavos políticos’. Conchavos de planos pessoais, não de projetos de nação.    
E essa ‘febre de pré-candidaturas’ espalha-se pelo país, verdadeiro "garimpo" pelas vagas nas chapas majoritárias para o Governo e o Senado da República, nos diversos estados, assim como o ‘desejo enlouquecido’ pelas "cadeiras acolchoadas" da Câmara Federal e das Assembleias Legislativas estaduais. 
O publicista francês ‘Jules Simon’ bem definiu esta cena – já tantas vezes vista – quando escreveu: "A paixão política só se legitima quando tem o patriotismo por foco; mas, muitas vezes, nas lutas dos partidos o interesse do país é aquilo em que menos se pensa; a princípio é o ódio que nos impele, sentimento mal, degradante, e tanto mais temível quanto ele aumenta fatalmente na luta e acaba por dominar. Depois vem essa espécie de obstinação, o cego encarniçamento que, no fim de algum tempo, concentra os nossos sentimentos na necessidade de vencer nossos ideais e realizar a ambição e o interesse pessoal, esta eterna preocupação do homem…".
Realmente! É esta a imagem perfeita da situação em que nos encontramos.
O ‘Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa’ define ‘encarniçamento’ – palavra utilizada por Jules Simon – como o "ato de encarniçar-se o animal sobre a presa". Na cena política, em última instância, as "presas" somos todos nós… 
Mas… não desanimemos! A indiferença é a saída dos fracos. Continuemos observando e procurando. Certamente há agulha no palheiro.  
 
* * *
Hoje, 1.º de maio, ‘Dia Mundial do Trabalho’, os cristãos-católicos celebram a festa litúrgica de ‘São José Operário’, instituída em 1955 pelo ‘Papa Pio XII’, diante de um grupo de trabalhadores reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano. Naquela ocasião, o Santo Padre pediu que "o humilde operário de Nazaré, além de encarnar diante de Deus e da Igreja a dignidade do trabalho manual, seja também o providente guardião de vocês e suas famílias". 
Concluo com um pensamento extraído do belo artigo "São José, o santo do silêncio", do nosso prezadíssimo ‘Arcebispo Emérito de Maceió, Dom Edvaldo Gonçalves Amaral, SDB’ – que escreve às quintas-feiras aqui no ‘Jornal do Dia’ -, publicado na edição n.º 3818, de 17 e 18/03/2016:
– São José é o santo do trabalho. É o operário humilde, o carpinteiro que com o suor de seu rosto, com sua fadiga de trabalhador braçal, manteve Jesus e Maria. É o operário-modelo, que soube fazer do trabalho oração, que santificou a fadiga diária e teve a honra inaudita de ver Jesus chamado "o filho do carpinteiro".
  
* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br

* Raymundo Mello

(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)

 

Desde a eleição de 1989 – a primeira,  após o Regime Militar, em que os cida- dãos brasileiros aptos a votar escolheram seu Presidente da República – não víamos aparecer tantos possíveis candidatos ao cargo executivo maior do Brasil. Naquela oportunidade, 22 candidatos à Presidência concorreram na eleição. Tivemos candidatos pra todos os gostos, até mesmo para os que apreciam as fantasias bizarras.
Era um momento novo, a Democracia brasileira, tão sonhada nas lutas populares, parecia tornar-se realidade. Mas aquele período trazia também a marca da fragilidade e das incertezas, disfarçadas de esperanças.
Agora, passados 29 anos, qualquer cidadão brasileiro – exceto aqueles que "as ideologias" (entre aspas mesmo) já lhes corromperam a capacidade cognitiva – compreende que pouco aprendemos sobre Democracia, confundida com a liberdade de qualquer um fazer o que quiser e onde quiser, sem respeitar o direito do coletivo, rompendo de forma grotesca e submissa aos interesses pessoais com aquilo que o grande filósofo ‘Jean-Jacques Rousseau’ intitulou "O contrato social".    
E novamente ‘o país naufraga num mar de desesperança e descrédito com a classe política’, e o cidadão comum parece ter perdido o interesse por exercer o seu direito à ‘Cidadania’, que, aliás, esconde-se na obscuridade. A palavra ficou obsoleta, perdida no tempo, na saudade das boas aulas de ‘Educação Moral e Cívica’ e ‘Organização Social e Política Brasileira’, "decapitadas" da grade curricular tão somente por terem sido implantadas durante o Regime Militar, sem qualquer avaliação despretensiosa e descomprometida da sua importância para a formação cidadã do povo brasileiro.
E é com tristeza que ouvimos diariamente pessoas de todas as camadas sociais e idades afirmando não mais se importarem com eleições. Muitos idosos dizem: "Eu não sou mais obrigado a votar. O que é que eu vou fazer lá? Dar meu voto pra quem não merece? Vou nada!". Alguns, mais jovens, programam seu dia na praia, no sítio ou simplesmente um churrasquinho em casa com os amigos, e, sem o menor ‘pudor’, afirmam: "Depois eu vou lá no TRE, justifico a ausência, pago a multa e tá resolvido".  
A que ‘caos’ chegamos! Como lamento tudo isso. Como lembro com respeito de meu pai, o ‘Memorialista Raymundo Mello’, e de tantos outros da sua idade, que, independente de ideologias, tinham o ‘dia da eleição’ como um ‘dia sagrado de devoção à nação’.
Como é saudável ir votar e encontrar a ‘Professora Verônica Maria Menezes Nunes’, o ‘Monsenhor José Carvalho de Souza’, a ‘Senhora Conceição Luduvice’, o ‘Dr. João Oliva Alves’, o ‘Professor Jouberto Uchôa de Mendonça’, o ‘Memorialista Murillo Melins’, o ‘Professor Vilder Santos’ e tantos outros, cujos nomes inspiram dignidade, honradez, respeito pelo país, e que, a cada dois anos, lá estão, cumprindo com responsabilidade o seu dever cívico.  
Mas ‘civismo’ parece uma palavra abolida dos dicionários na sociedade contemporânea. Não! Desculpem-me. Dos dicionários, jamais. Das consciências.
Voltando ao assunto primeiro: aí estão, "desfilando", um já sem número de pré-candidatos. Cada um lançando-se pra ‘ver-no-que-dá’, ‘tirando-uma-casquinha’ deste mais recente momento de ‘fragilidade democrática’. É claro que daqui até o prazo final para o registro das candidaturas, muita gente ‘sai-de-cena’ ou entra num novo papel, tudo garantido pelos famosos ‘conchavos políticos’. Conchavos de planos pessoais, não de projetos de nação.    
E essa ‘febre de pré-candidaturas’ espalha-se pelo país, verdadeiro "garimpo" pelas vagas nas chapas majoritárias para o Governo e o Senado da República, nos diversos estados, assim como o ‘desejo enlouquecido’ pelas "cadeiras acolchoadas" da Câmara Federal e das Assembleias Legislativas estaduais. 
O publicista francês ‘Jules Simon’ bem definiu esta cena – já tantas vezes vista – quando escreveu: "A paixão política só se legitima quando tem o patriotismo por foco; mas, muitas vezes, nas lutas dos partidos o interesse do país é aquilo em que menos se pensa; a princípio é o ódio que nos impele, sentimento mal, degradante, e tanto mais temível quanto ele aumenta fatalmente na luta e acaba por dominar. Depois vem essa espécie de obstinação, o cego encarniçamento que, no fim de algum tempo, concentra os nossos sentimentos na necessidade de vencer nossos ideais e realizar a ambição e o interesse pessoal, esta eterna preocupação do homem…".
Realmente! É esta a imagem perfeita da situação em que nos encontramos.
O ‘Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa’ define ‘encarniçamento’ – palavra utilizada por Jules Simon – como o "ato de encarniçar-se o animal sobre a presa". Na cena política, em última instância, as "presas" somos todos nós… 
Mas… não desanimemos! A indiferença é a saída dos fracos. Continuemos observando e procurando. Certamente há agulha no palheiro.   * * *
Hoje, 1.º de maio, ‘Dia Mundial do Trabalho’, os cristãos-católicos celebram a festa litúrgica de ‘São José Operário’, instituída em 1955 pelo ‘Papa Pio XII’, diante de um grupo de trabalhadores reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano. Naquela ocasião, o Santo Padre pediu que "o humilde operário de Nazaré, além de encarnar diante de Deus e da Igreja a dignidade do trabalho manual, seja também o providente guardião de vocês e suas famílias". 
Concluo com um pensamento extraído do belo artigo "São José, o santo do silêncio", do nosso prezadíssimo ‘Arcebispo Emérito de Maceió, Dom Edvaldo Gonçalves Amaral, SDB’ – que escreve às quintas-feiras aqui no ‘Jornal do Dia’ -, publicado na edição n.º 3818, de 17 e 18/03/2016:
– São José é o santo do trabalho. É o operário humilde, o carpinteiro que com o suor de seu rosto, com sua fadiga de trabalhador braçal, manteve Jesus e Maria. É o operário-modelo, que soube fazer do trabalho oração, que santificou a fadiga diária e teve a honra inaudita de ver Jesus chamado "o filho do carpinteiro".  * Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br

 

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