As profissões do futuro já estão aqui
Publicado em 20 de janeiro de 2021
Por Jornal Do Dia
* Fernanda Andrade
O desenvolvimento das novas tecnologias impacta a reorganização da sociedade. No viés atual, é in comum escrever cartas para dar um recado que precisa de agilidade ou contar com transportes exclusivamente marítimos. Assim como as modificações de comportamento, a estrutura de empregabilidade no modo operado pelo capitalismo parte do raciocínio por demanda.
Operador de elevador, técnicos em datilografia e telegrafistas. Três profissões que desapareceram de acordo com a realidade da necessidade social. Os elevadores estão cada vez mais modernos e utilizam de comandos simples, enquanto a máquina de datilografar foi substituída pelo teclado – que vem se transformando em digital. Por fim, os smartphones ocupam o papel de autossuficientes no processo de ligação.
Ao passo em que algumas ocupações vão sumindo, novas emergem nas habilidades modernas. Dentro desse raciocínio, as profissões que se ligam ao mundo digital seguem em alta, uma vez que relacionam a realidade do consumidor. Segundo pesquisa da Newzoo, no ano passado, o Brasil ocupou a 13º colocação no mercado de movimentação econômica por conta dos jogos. Quando o recorte é feito nos países latino-americanos, a terra tupiniquim lidera o mesmo ranking, números que explicam o aumento do interesse por empregos que beiram a jogabilidade.
Streamer, que vem do inglês stream – comumente traduzida como transmissão ao vivo -, é uma dessas atuações. Passar horas em frente à webcam conversando ou jogando com os possíveis telespectadores é um resumo básico dessa rotina. A Twitch que, de acordo com o levantamento da Arsenal em 2019, tem reinado absoluto no mundo das plataformas utilizadas para stream com mais de 50% à frente do segundo lugar posicionado pelo Youtube, utiliza de artifícios de interação social com o público para estabelecer uma possível relação. Os inscritos podem, por exemplo, mandar mensagens personalizadas e interferir nas decisões do jogo de seus streamers favoritos.
E se engana quem pensa que essas ramificações não são variadas. Fernando Santos, streamer no canal intitulado Código Falado, primeiro parceiro oficial da Twitch direcionado à comunidade de programação, leva documentos para o compartilhamento de códigos computacionais e entrevistas com pessoas influentes dentro do mercado da ciência de dados.
"Vejo que, principalmente na área de tecnologia, tivemos muitas ramificações onde uma única profissão antiga, como o Webmaster que surgiu no meio dos anos 90, foi quebrada em várias profissões novas e mais específicas. É muita coisa nova no século 21!", exclama Fernando, que realiza as transmissões ao vivo todas às quintas e sábados.
E não para por aí. Você já pensou em ganhar dinheiro com aquilo que faz parte do seu lazer? Parece simples, mas os competidores profissionais dos chamados e-sports, esportes eletrônicos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, treinam até 13 horas por dia, de acordo com a Gazeta Esportiva. Os jogadores também acabam ficando distantes de suas famílias, pois, geralmente, moram com os outros parceiros de time. Segundo o TechTudo, a terceira posição de jogador profissional mais bem pago do mundo é ocupada por um brasileiro. Gabriel Toledo, conhecido pelo apelido de Fallen no jogo Counter-Strike, recebe cerca de R$2,7 milhões por uma rodada com bom desempenho.
Para Flávia Machado, técnica em recursos humanos com experiência na área administrativa, as antigas modalidades de emprego já não são mais cabíveis na realidade dos nativos digitais. "Vejo que não há mais a busca para concluir uma faculdade, mas se especializar em aprendizados que já foram adquiridos por meio do computador", opina.
Já para Vitor Neves, que compete profissionalmente através do jogo League of Legends, a maior vantagem em se inserir dentro desse novo espaço é a falta de cobrança por habilidades específicas de forma inicial. "É interessante ser calmo, calculista e curioso, mas não é o principal. Esse é o barato dos jogos eletrônicos, as habilidades que você vai adquirir partem da imersão dentro do jogo mesmo", conta.
Tal realidade reflete nas formações de ensino superior pelo país. O curso de Jogos Digitais vem se tornando destaque para aqueles que possuem interesse na criação e coordenação dessas ferramentas, além de poder entender um pouco mais sobre os ambientes de interação da web.
Leandro Bonfim, que frequenta o curso pela Universidade Tiradentes, abandonou a formação de odontologia para seguir seu sonho. "Desde pequeno tive videogame em casa, então cresci e quis entender mais como funciona esse mercado. O bom de se jogar nessa área é que você cresce junto com a profissão", afirma.
Coordenador de um time de e-sports sergipano, intitulado de TauruS, Leandro considera a ocupação de jogador profissional com a área de futebol. "Você tem que treinar, estudar e ter campeonatos que suportem isso. Dá para enxergar o jogo de uma forma mais adulta quando se leva para o lado competitivo", completa.
E, assim como o surgimento de divisões e novas especializações das profissões do século passado, o que se espera é que a mesma situação aconteça no mundo dos games. Logo, é importante que quem possui vontade de ingressar nessa esfera não fique para trás e busque desenvolver o interesse no presente, continuando com os olhos bem abertos para o futuro. Afinal, ele já chegou.
* Fernanda Andrade, estudante do 6º período de Jornalismo – UNIT