Esta semana, cash em Divina Pastora foi um dos explodidos
Bancos abrem agências sem equipamentos de segurança
Publicado em 10 de novembro de 2013
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
As autoridades prometem aumentar o cerco contra as explosões de caixas eletrônicos, cujas ocorrências cresceram rapidamente em Sergipe. Agora, são 21 explosões ocorridas no estado em 2013, entre tentativas e atos consumados. Os dados são do Centro de Operações Policiais Especiais da Polícia Civil (Cope), que contabiliza um total de 37 ocorrências contra instituições financeiras, incluindo três assaltos com sequestros de gerentes, cinco assaltos diretos à mão armada e oito arrombamentos de caixas eletrônicos com maçaricos.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a Polícia Federal (PF) garantem que estão trabalhando para conter a onda de crescimento dos assaltos, mas não vêm contando com a colaboração dos bancos, os quais insistem em abrir postos de atendimento ou instalar caixas eletrônicos no interior, sem nenhum dos dispositivos de segurança exigidos pela Lei Federal 7.102, de 20 de junho de 1983, que estabelece normas mínimas para estabelecimentos financeiros. Entre elas, estão a instalação de portas giratórias, sistemas de alarmes, circuitos internos de TV e vigilantes treinados e armados.
Uma reportagem publicada neste sábado pelo Portal Infonet revelou que a Polícia Federal, responsável pela fiscalização da segurança bancária, já aplicou punições contra 10 agências bancárias de Sergipe que não tinham os equipamentos de segurança, sobretudo os sistemas de alarmes. As instituições foram obrigadas a pagar multas de até R$ 21 mil e, caso sejam reincidentes, podem ter que fechar as agências. A interdição, contudo, ainda não precisou ser aplicada no estado. Ao todo, 233 unidades foram fiscalizadas, mas estes números podem aumentar, pois os policiais civis e militares foram orientados a verificar tais condições nas unidades bancárias e comunicar as irregularidades achadas à Delegacia Regional de Segurança Privada (Delesp) da Polícia Federal, através de um documento.
Esta decisão foi acordada em 17 de outubro, durante reunião entre SSP, PF e representantes dos bancos estatais – os das instituições privadas não compareceram. A própria Polícia Civil, inclusive, já vinha reclamando há mais tempo da atitude das instituições, "Existe uma legislação federal que cobra o mínimo de mecanismos que infelizmente não vem sendo cumprida, principalmente com relação a postos de atendimento bancários, principais alvos dos criminosos. Existem unidades que não tem nenhum mecanismo exigido", declara o diretor do Cope, delegado Flávio Albuquerque.
Na semana passada, o Sindicato dos Bancários de Sergipe foi além: fechou, por conta própria, as agências do Banco Itaú nas avenidas Hermes Fontes (Grageru) e Rio de Janeiro (Siqueira Campos), as quais já foram assaltadas neste ano. Segundo o sindicato, a direção do banco retirou das duas agências as portas giratórias, demitiu os gerentes, retirou seguranças e os caixas, mas deixou os cashs de autoatendimento ativados e em funcionamento. O sindicato encaminhou denúncia à PF. "Essas agências receberam alvará para funcionar como agências e não como escritórios. Além disso, com os cashs ativados e sem os seguranças, a população e os funcionários também correm um maior risco de serem assaltados", protesta o presidente do sindicato, José Souza.
Alguns fatores complicadores contribuem para aumentar as ocorrências, como a falta de efetivo de policiais militares e a fragilidade na estrutura de segurança no interior – há algumas cidades que mantêm apenas dois PMs de plantão durante a noite e outras em que a delegacia ou destacamento funciona de forma precária. Foi o caso de Graccho Cardoso (Vale do Cotinguiba), cuja sede policial foi atingida por tiros de metralhadora disparados por soia criminosos na madrugada de quarta-feira, durante o ataque ao posto de atendimento local do Banese.
Outro fator é o acesso dos grupos criminosos a explosivos, como bananas de dinamite, cujo poder destrutivo é capaz de arrebentar não apenas o caixa eletrônico, mas também o banco inteiro. Como os artefatos têm a venda controlada pelo Exército, a suspeita é de que eles sejam roubados de pedreiras ou obtidos por integrantes de quadrilhas que têm conhecimentos no meio. Este pode ser o caso da apreensão ocorrida na noite de quinta-feira, quando soldados do 3º Batalhão de Polícia Militar encontraram uma dinamite enterrada em dentro de uma casa em construção no bairro Pica Pau, em Itabaiana (Agreste).
O imóvel suspeito fica a cerca de 100 metros do local onde, no domingo passado, policiais do Cope e da PM capturaram seis integrantes da quadrilha que praticou mais da metade das 13 explosões registradas entre setembro e outubro deste ano. O grupo, que tem quatro paulistas e três sergipanos, já cumpriu pena pelo mesmo crime no interior da Bahia.
Prendeu a maioria – A SSP admite o crescimento, mas garante ter um alto índice de elucidação nos crimes bancários, pois a maioria deles já teve seus autores descobertos, presos e processados em ações conjuntas das polícias Civil e Militar. Foram elucidados ao todo seis arrombamentos com maçaricos, dois sequestros (sendo um comprovado e outro forjado pelo próprio funcionário, que foi preso) e todos os cinco assaltos à mão armada. Já o número de casos relativos às explosões de cashes ainda não é totalmente confirmado, pois o Cope ainda apura em quais crimes houve a participação da quadrilha presa em Itabaiana.
O delegado Flávio Albuquerque afirma que o número de ocorrências em Sergipe é muito menor se comparado aos outros estados nordestinos. Na Bahia, foram 160 ataques contra agências bancárias e caixas eletrônicos entre janeiro e a primeira semana de novembro, sendo 122 no interior e 38 na Grande Salvador.
A situação mais grave, levando-se em conta o tamanho do estado, é a da Paraíba, que neste ano já registrou 120 ocorrências, sendo 44 explosões, 17 assaltos consumados, 16 tentativas e nove "saidinhas de banco". Os dados são divulgados pelos Sindicatos dos Bancários dos respectivos estados.
"São números inexpressivos para o comparativo com Alagoas e Bahia, mas que bastava ter apenas um caso para ser preocupante e demonstrar a necessidade de reação [da polícia], o que tem acontecido. Tanto é que o Cope tem investigado e prendido quadrilhas que têm explodido bancos. São 21 casos, e nós estamos prendendo. A resposta está sendo dada a todas as modalidades de crimes praticadas contra agências e postos bancários em Sergipe", assegura o delegado.