Brasileiros off line
Publicado em 18 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia
Ao longo dos últimos meses, o Ministério da Edu cação (MEC) pouco fez além de fabricar crises e provocar escândalos. Submetida a uma agenda ideológica que pouco ou nada tem a ver com a realidade concreta da comunidade acadêmica, professores e estudantes, a pasta virou palco de proselitismo e embate político. É assim desde o início do governo Bolsonaro.
Ontem, contudo, o MEC finalmente se dispôs ao diálogo e atendeu a uma demanda posta pelas entidades de classe ligadas à educação. O governo federal vai disponibilizar acesso à internet para alunos de universidades e de institutos federais em situação de vulnerabilidade social, para que possam acompanhar as aulas durante o período de isolamento social adotado para evitar a disseminação do novo coronavírus.
A promoção do acesso chega em boa hora. A princípio serão beneficiados 400 mil alunos com renda familiar inferior a meio salário-mínimo, mas a ideia é que esse número chegue a 900 mil alunos cuja renda familiar seja de até 1,5 salário-mínimo.
Os usuários de internet correspondem a apenas 69,8% da população brasileira com faixa etária a partir dos dez anos, segundo levantamento do IBGE publicado em 2018. De acordo com a pesquisa já mencionada, o preço, a indisponibilidade do serviço e o custo da tecnologia, logo depois da falta de conhecimento e interesse, estão entre as explicações apresentadas para manter milhões brasileiros longe da rede mundial de computadores, off line.
O MEC acerta ao reconhecer que parcela expressiva da população não tem acesso ao admirável mundo novo da comunicação em rede. Neste, contra todas as aparências, as diferenças sociais também produzem reflexos constrangedores.