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Brizola e a metáfora do jacaré


Publicado em 01 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Inúmeras vezes, Brizola usou e abusou da metáfora, tornando-se uma referência neste recurso. Algumas de suas metáforas ficaram célebres por sua astúcia, inteligência e simplicidade

 

* Henrique Matthiesen

 

Um dos atributos essenciais de uma grande liderança política de massas é saber se comunicar. Como dizia o velho guerreiro Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica.”
Leonel Brizola era uma destas lideranças que tinha o dom e a maestria da comunicação utilizando inúmeros recursos linguísticos para se fazer entender e para atingir as mentes e os corações do povo brasileiro.
Um destes recursos, manuseado com proficiência por Brizola, era a metáfora: figura de linguagem em que se transfere o nome de uma coisa para outra e assim é possível estabelecer uma relação de comparação.
Inúmeras vezes, Brizola usou e abusou da metáfora, tornando-se uma referência neste recurso. Algumas de suas metáforas ficaram célebres por sua astúcia, inteligência e simplicidade.
Certa vez, para dizer que alguém era desonesto ou simplesmente corrupto, ele utilizou a metáfora do jacaré, que ficou famosa e que se aplica de forma certeira em muitos casos contemporâneos.
Brizola disse:
– “Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré; como é que não é jacaré?”
Seja na realpolitik, nos bastidores do “poder” ou simplesmente no cotidiano, o que não falta é jacaré.
Neste pântano de espertezas, sutilezas e embustes, os jacarés são habilidosos, donos de retóricas e soluções fáceis – conversadores, verdadeiros charlatões oportunistas.
Mestres do aleive, comportam-se com ar professoral, mesmo sendo ignorantes em temáticas que lhes convêm. Na arte de ludibriar ou de ensinar o vigário a rezar missa, o jacaré metafórico de Brizola sempre tem uma observação, uma contribuição, um lisonjeio para aplicar seu bote, prestando-se a situações ignominiosas para seu êxito ou manutenção do status quo. Afinal, o jacaré não deixa de ser jacaré nunca.
Cuidado: muitas estéticas floridas e articuladas escondem essências pantanosas e enganadoras, cheias de jacarés.
Brizola também dizia: “Cuidado, povo brasileiro…”

 

* Henrique Matthiesen, formado em Direito, pós-graduado em sociologia

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