A pandemia é página virada – acabou.
Caem as máscaras
Publicado em 29 de março de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Eu conferi ‘in loco”, como dizem os melhores repórteres. Para todos os efeitos práticos, a pandemia é página virada – acabou.
Fui ao shopping, à praia, ao mercado. Bati palmas em show de Alberto Silveira. Balancei o corpo no ensaio promovido por Bob Lélis, à frente da Rural do Forró. Em todo lugar, pouco a pouco, caem as máscaras. Na Barra dos Coqueiros, onde o amigo Doca Furtado transforma os suspiros do vento em sabor e canção, a situação é ainda mais drástica. A julgar pelas aparências, a pandemia jamais alcançou a outra margem do rio, tudo não passou de histeria, um surto coletivo, ilusão.
Longe de mim, a pose de cidadão exemplar. Para começo de conversa, deitei com a peste mais de uma vez. Devo à sorte, mais três doses de vacina contra a covid, o privilégio de estar vivo para comemorar o fim da pandemia. Não o faço com a cara lisa, contudo. O hábito da máscara perdura, apesar do incômodo. Quase uma comichão.
Mesmo os mais cuidadosos começam a baixar a guarda. A fotógrafa Iza Foz, por exemplo, já abre a porta de seu apartamento, recebe os amigos com a janela indiscreta escancarada ao apetite dos olhos e boas garrafas de vinho à mão. Antes de dar passagem, entretanto, examina quem chega de alto a baixo, numa espécie de espasmo. O receio permanece, indiferente aos decretos do governador Belivaldo Chegas, feito um estalo da razão.
Vai ser difícil voltar aos beijos e abraços, como se a vida fosse um fato consumado, sem mácula de pecado ou veneno. Lá se vão dois anos de espada sobre a cabeça. 650 mil já não acenam aos entes queridos das esquinas. Será preciso aprender de novo a coreografia intuitiva do amor.