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CALE A BOCA…


Publicado em 14 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia


* Inocêncio Nóbrega

A imprensa, com ou sem liberdade, sempre foi um nó na garganta dos governos, em quaisquer modelos políticos de gestão. Como conviverem, harmonicamente, a história tem mostrado que impossível. No mundo e no Brasil. Nem falemos anterior a 28 de agosto de 1821, pois foi nessa data que D. Pedro decretou a imprensa liberta dos poderes temporal e eclesiástico, ou melhor da vontade do rei e da Santa Inquisição. Com seu ato, derruba a censura imposta pelas Cortes Gerais, recomendando que "não se embarace, sob qualquer pretexto, a impressão que se quiser fazer". O paradoxal veio dez anos depois, quando S. Alteza troca seu liberalismo pelo autoritarismo, apoiado pelo "Aurora Fluminense", resolvendo abdicar pela pressão popular, conduzida por jornais da época, como o "Repúblico", de Borges da Fonseca.

Herança colonialista, de repressão às comunicações impressas, é renovada e persiste no Brasil República, em razão do prestígio e renitência das forças conservadoras, as quais de pronto aderiram às barbas dos dois presidentes de espada. "Cale a boca, jornalista!", livro de Fernando Jorge, nos traz um rosário de casos de implacáveis perseguições (invasão, prisões,  torturas e mortes) a jornais e seus redatores, da monarquia ao regime militar e  redemocratização.

O senador brigão, Pinheiro Machado, desafiou um jornalista do Correio da Manhã, para um duelo de pistola, em virtude de críticas que lhe foram feitas. Em 1919 a Plebe, da capital paulista, tem suas oficinas assaltadas e sede incendiada, decorrente de sua campanha contra a plutocracia. Referindo-nos ao período 1964, recrudescem as ameaças à liberdade de imprensa, que tem contra si uma legislação autoritária, vários órgãos e agentes para darem pronto cumprimento à LSN, DOI-CODI e SNI. Dois diários catarinenses são punidos por republicarem notícia denunciando os figurões da política, empresários e militares de alta patentes, pelo depósito de milhões de cruzeiros em contas secretas da Suíça. A morte, por policiais civis capixabas, da repórter Maria Nilce, em 1989, é resultado de que nossos governantes continuavam desarmônicos com a liberdade de imprensa.

Os generais, que presidiram o país por 25 anos, evitavam contatos com jornalistas, porém os respeitavam. Ao contrário, João Figueiredo os odiava. Numa coletiva, avisou: "Não faz pergunta, senão leva coice". E mais:  "O trabalho da imprensa é contra mim e meu governo". Bolsonaro é desse tipo, "cale a boca, cale…", fitando um repórter. Isso na data dedicada à Liberdade da Imprensa. O "cale a boca já morreu", da ministra Carmem Lúcia, continua vivo.              

* Inocêncio Nóbrega, Jornalista
    inocnf@gmail.com

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