Camadas densas de timbres clássicos
Caleidoscópio sonoro na Che Petiscaria
Publicado em 04 de julho de 2013
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Eu nunca descalcei as pantufas, mas parece que vou ter de sair do Facebook. O meu notebook Dell tchau de uma vez, devolvendo o baú com os tesouros amealhados na ponta da espada para o umbigo do mundo. Pirata pendurado pelo pescoço, sem Torrent que me valha, fui impedido de revisar a discografia da Mopho e celebrar a sexta-feira entre os travesseiros da felicidade doméstica, como preguiça e senilidade aconselhavam. Parece que vou ter de me dispor a ver a banda in loco, entre gírias que não me dizem nada e o bafo Hollywood da gurizada. Pelo menos a zuada é classe.
Mopho – No início de uma década que marcou definitivamente a queda da indústria fonográfica nos moldes tradicionais, onde mesmo artistas consagrados passavam por dificuldades, o Mopho teve seu espaço garantido graças à inquestionável qualidade de composições como Não Mande Flores ou Uma Leitura Mineral Incrível. Aos que tiveram a oportunidade de assistir aos shows de lançamento do seu primeiro CD, a banda apresentava um verdadeiro caleidoscópio sonoro, intensificado por figurinos coloridos e retrôs, que envolvia o público com camadas densas de timbres clássicos, com solos de guitarras e teclados lisérgicos, linhas de baixo hipnotizantes e uma bateria competente que se harmonizavam como os melhores ingredientes para uma receita infalível de um estilo de Rock’n’Roll que já não se fazia no Brasil.
Em 2004 o Mopho lança Sine Diabolo Nullus Deus, com arte gráfica inspirada em Rubber Soul, dos Beatles, uma das maiores influências da banda. O CD traz músicas de destaque como O Amor é Feito de Plástico e Quando Você Me Disse Adeus, esta última entra na trilha sonora do longa-metragem de animação Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n Roll, do diretor gaúcho Otto Guerra.
Após um longo e turbulento período de adaptações que quase extinguiu a banda, em 2011 é lançado Vol. 3, no qual a banda explora mais uma vez os limites de seu potencial criativo. O CD é composto por dez músicas que nada têm de aleatórias, interligando-se mutuamente através de memórias musicais instantâneas que vão se formando a cada acorde que entra pelos ouvidos.
Aqui, a principal virtude de Volume 3 e mais um entre os atrativos da apresentação desta semana. Dinho Zampier deixou registrado seu teclado no terceiro CD do grupo. Agora um quinteto, a Mopho nunca esteve tão apta a reproduzir ao vivo cada nuance das sonoridades registradas em estúdio, satisfazendo mesmo ao mais exigente dos ouvintes.
Mopho, Necronomicon e Plástico Lunar no Che Petiscaria
Sexta-feira, 05 de julho, às 22 horas