Quinta, 16 De Janeiro De 2025
       
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Carnaval de velho


Publicado em 13 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia


Tudo transborda: Os copos, os corpos, o suor, a paixão

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Nunca fui de Carna-
val. Há alguns anos, 
quando o Rasgadinho caiu no gosto da classe média, bebi a minha cota de cervejas mornas com um sorriso amarelo estampado no rosto, doido para diluir o próprio ego na euforia coletiva. Não sei se convenci os amigos. A mim mesmo, contudo, jamais convenci.
O leitor não me entenda errado. Gosto, sim, de estar entre as pessoas. A minha repulsa tem alvo certo: A ferocidade da multidão. Aprendi com a banda naurÊa a ver beleza no furdunço. De fato, um corpo vivo formado por centenas e até milhares de almas na mesma sintonia tem uma força difícil de ignorar. Mas o apelo ecumênico da folia chega aos meus ouvidos como um gemido. Eu confesso, não sou homem de religião.
Carnaval, para mim, é sinônimo de rede. Sou da sombra e da água fresca. Gosto de ter o dia inteiro para folhear um livro, morrendo de preguiça; ir à praia, chegar à beira do desconhecido e voltar. Tranquilo, apesar da agitação submersa. Um rugido abafado reverbera em meu peito o tempo inteiro com o tom monocórdio do marulho.
No Carnaval, via de regra, tudo transborda. Os copos, os corpos, o suor, a paixão. Eu, de minha parte, faço tudo ao contrário. Economizo. Já não tenho os recursos da juventude, quando a vida inteira é um convite ao desperdício. Esbanjei o quanto pude. Confetes, serpentinas e otras cositas más. Foi-se o tempo. O Carnaval da pandemia caiu em minha rotina como uma luva. Entrego os pontos na flor dos 40 anos. Fujo do barulho.

Rian Santos

Nunca fui de Carna- val. Há alguns anos,  quando o Rasgadinho caiu no gosto da classe média, bebi a minha cota de cervejas mornas com um sorriso amarelo estampado no rosto, doido para diluir o próprio ego na euforia coletiva. Não sei se convenci os amigos. A mim mesmo, contudo, jamais convenci.
O leitor não me entenda errado. Gosto, sim, de estar entre as pessoas. A minha repulsa tem alvo certo: A ferocidade da multidão. Aprendi com a banda naurÊa a ver beleza no furdunço. De fato, um corpo vivo formado por centenas e até milhares de almas na mesma sintonia tem uma força difícil de ignorar. Mas o apelo ecumênico da folia chega aos meus ouvidos como um gemido. Eu confesso, não sou homem de religião.
Carnaval, para mim, é sinônimo de rede. Sou da sombra e da água fresca. Gosto de ter o dia inteiro para folhear um livro, morrendo de preguiça; ir à praia, chegar à beira do desconhecido e voltar. Tranquilo, apesar da agitação submersa. Um rugido abafado reverbera em meu peito o tempo inteiro com o tom monocórdio do marulho.
No Carnaval, via de regra, tudo transborda. Os copos, os corpos, o suor, a paixão. Eu, de minha parte, faço tudo ao contrário. Economizo. Já não tenho os recursos da juventude, quando a vida inteira é um convite ao desperdício. Esbanjei o quanto pude. Confetes, serpentinas e otras cositas más. Foi-se o tempo. O Carnaval da pandemia caiu em minha rotina como uma luva. Entrego os pontos na flor dos 40 anos. Fujo do barulho.

 

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