MANIFESTANTES COM CARTAZES NA PORTA DO FÓRUM DE ESTÂNCIA COBRAM JUSTIÇA; NO DESTAQUE, O AMBIENTE NA SALA DE JULGAMENTO (Juliana Galvão/TRF)
Começa o julgamento dos policiais acusados pela morte de Genivaldo
Publicado em 27 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Milton Alves Júnior
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Com previsão de ser concluído na próxima terça-feira, 03 de dezembro, a Justiça Federal deu início na manhã de ontem, no fórum de Estância, ao procedimento de júri popular, direcionado para os ex-policiais rodoviários federais Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Kleber Nascimento Freitas e William de Barros Noia, acusados pelos crimes de tortura e homicídio triplamente qualificado no dia 25 de maio de 2022. Até o final da tarde de ontem, só havia sido ouvida uma testemunha arrolada pelo Ministério Público Federal e pela assistência de acusação.
Conforme amplamente destacado pelo JORNAL DO DIA – com base na constatação apresentada por peritos do Instituto Médico Legal (IML) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública -, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, morreu asfixiado. Houve encaminhamento para unidade hospitalar, mas sem sucesso.
Registrada por testemunhas, toda a ação aconteceu na BR-101, no município de Umbaúba; já o julgamento segue em andamento no Fórum Ministro Heitor de Souza, na cidade de Estância, região Sul Sergipano. Presidido pelo juiz federal Rafael Soares Souza, da 7ª Vara Federal em Sergipe, esta etapa do processo conta com a presença de sete integrantes do júri popular, sendo dividido em quatro homens e três mulheres. Por decisão da Justiça Federal, neste caso específico houve limitação de acesso por parte da imprensa ao local, bem como foi proibido o uso de gravadores, câmeras ou microfones no Salão do Júri. Sorteios diários vão definir cinco profissionais de comunicação para acompanhar o julgamento.
A cronologia dos fatos mostra que o policial William Noia aparece pedindo para que Genivaldo colocasse as mãos na cabeça. Momento em que a vítima obedece às ordens, mas, sem apresentar qualquer reação, recebe um jato de spray de pimenta no rosto. Logo em seguida o policial Kleber Nascimento Freitas dispara spray de pimenta pelo menos cinco vezes enquanto Genivaldo alegava não estar fazendo nada além do exigido. A ação continuou no chão, quando ambos os policiais pressionaram o pescoço e o peito de Genivaldo com os joelhos. Após ser colocado no porta-malas da viatura, o policial Paulo Rodolpho Lima depositou uma granada de gás lacrimogêneo no compartimento traseiro da viatura enquanto Paulo Rodolpho e William seguraram a porta.
Consta nos autos que em decorrência da detonação do gás lacrimogêneo, houve a liberação de gases tóxicos, como monóxido de carbono e ácido sulfídrico; peritos atestaram ainda que a concentração de monóxido de carbono foi pequena, mas a de ácido sulfídrico foi bem maior, e pode ter causado convulsões e incapacidade de respirar. Toda a ação aconteceu durante 11 minutos e 27 segundos. A perícia constatou que os gases causaram um colapso nos pulmões. Reunidos na entrada principal do fórum, amigos e familiares impulsionaram o pedido de justiça pela morte do ente querido.
Maria Vicente de Jesus, mãe de Genivaldo, reforçou o pedido e afirmou que gostaria de realizar perguntas aos réus. “Só queria olhar na cara deles e poder perguntar o porquê que fizeram aquela tortura com meu filho; uma pessoa que não apresentava reação nenhuma aos policiais, sofria problemas [mentais] e a população tentava evitar que cometessem o crime. Nenhuma justiça dos homens a ser feita vai trazer meu filho de volta; não vou ter minha vida normalizada sem a presença dele, mas quero que eles paguem pelo assassinato cruel que cometeram”, pediu. O julgamento é acompanhado por advogados de defesa e acusação, membros do Ministério Público Federal, seleto público pertencente à sociedade civil, além de familiares dos envolvidos na cena.