O mapa mostra a gravidade da doença no estado de Sergipe
Comitê do Nordeste recomenda 'lockdown' em Aracaju'
Publicado em 05 de julho de 2020
Por Jornal Do Dia
O Comitê Científico de Combate ao Co ronavírus (C4), ligado ao Consórcio Nordeste e que reúne pesquisadores e cientistas de todo o país, recomendou que Aracaju adote imediatamente o regime de ‘lockdown’, que é o bloqueio total e temporário da circulação de pessoas e do funcionamento de estabelecimentos, com exceção dos serviços considerados essenciais. E que Sergipe suspenda totalmente o Plano de Retomada Econômica adotado na semana passada pelo governo do Estado – com reavaliação marcada para ocorrer nos próximos dias 13 e 14.
A recomendação está claramente expressa no Boletim 09 do C4, no qual os cientistas alertam para um "efeito bumerangue" nos casos de coronavírus em todas as capitais nordestinas. Ela se baseia nas estatísticas do último mês de junho, que constataram uma forte alta nos números de pacientes infectados com a Covid-19 e no de mortes causadas por complicações da doença. No dia em que ela foi finalizada, em 29 de junho, o Estado tinha 24.817 pessoas com coronavírus e, destas, 653 morreram.De lá pra cá, até o fechamento desta edição, os números saltaram para 28.186 infectados, 764 mortos e 679 internados.
O parecer do comitê se choca frontalmente com o Plano de Retomada, através do qual o governo liberou o funcionamento de 60% das atividades comerciais e sociais em todo o Estado, incluindo escritórios, lojas, clínicas, salões de beleza, barbearias e templos religiosos. É uma situação que já aconteceu neste ano. "Em meados de abril passado, apesar do estado de Sergipe à época registrar apenas 280 casos e porvolta de 12 óbitos, este comitê sugeriu que um decreto de afrouxamento do isolamento social,publicado pelo governo do estado, fosse revogado para impedir uma explosão de casos no estado.Como consequência desta revogação pelosenhor governador do estado, uma explosão decasos foi evitada. Ocorre, porém, que doismeses depois, o estado de Sergipe encontra-senuma encruzilhada muito semelhante. Todavia, a situação é muito mais grave do que aenfrentada em abril", diz o C4.
A situação mais grave é a de Aracaju, que concentra a maior parte dos novos casos. "Nãoobstante uma taxa de letalidade baixa, e umvalor de Rt próximo de 1, existem outrosagravantes na presente situação da pandemiaem Aracaju, bem como no estado de Sergipe. Primeiro, em 27 de junho, Aracaju apresentavao maior valor de casos confirmados por cem milhabitantes (2.072) de todas as capitais doNordeste. Nos últimos 14 dias, a cidade teveum crescimento de 5.422 casos novos, um crescimento de 66%", diz o relatório, que é taxativo ao recomendar o ‘lockdown’. Isto porque Aracaju está entre as cidades que apresentam "curvas crescentes ou em platô em altos patamares de casos e óbitos, com fator de reprodução(Rt) acima de 1, e que tenham excedido a taxa de ocupação (80%) de leitos (enfermaria e/ouUTI), considerada como limite máximo de segurança" pelo C4.
A maior tensão é causada pelo aumento dos casos da doença no interior dos estados do Nordeste. Entre os dias 14 e 27 de junho, os registros confirmados da doença em Sergipe aumentaram principalmente em Estância (68%), Aracaju (66%), Itabaiana (62%), São Cristóvão (56%) e Nossa Senhora do Socorro (48%). E com base nos dados do dia 27, as cidades sergipanas que tiveram a maior concentração de casos de coronavírus por 100 mil habitantes foram Aracaju (2.072 casos), Barra dos Coqueiros (1.463), Moita Bonita (1.279), Itabaiana (1.055), Nossa Senhora da Glória (1.010) e São Cristóvão (971). E no dia 29, as cinco cidades com maior crescimento de casos de coronavírus em Sergipe eram Areia Branca, Capela, Itabaiana, Moita Bonita e Propriá.
Com base nestes números, os cientistas estão preocupados com uma migração em massa de pacientes graves com Covid para os hospitais da capital."Apesar dagrande dificuldade de interpretar os dadosreferentes à ocupação de leitos, contidos nosrelatórios epidemiológicos do estado, estecomitê avalia que a ocupação de leitos de UTIna cidade de Aracaju, quando se computamleitos públicos e privados de forma unificada, jácruzou o patamar crítico (80%) estipulado poreste comitê. Como Aracaju muitoprovavelmente vai começar a receber um grande número de pacientes graves do interiorsergipano, onde as taxas de reprodução dainfecção ainda são altas, e as curvas decrescimento de casos começam a disparar, épreciso novamente, como em abril, apelar aogoverno do estado para que este revertaqualquer plano de afrouxamento, quer emAracaju, quer no interior do estado. O preço de tal ação, como demonstrado em outros países emesmo no Brasil, será um agravamento inevitável da crise da pandemia em Sergipe e a potencialperda completa do seu controle no estado", afirma o boletim do C4.
E os números das UTIs justificam a preocupação. No boletim epidemiológico divulgado na sexta-feira pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), as UTIs dos hospitais privados apareceram com uma taxa de ocupação de 109,5%, com 115 pacientes internados para 105 leitos. E as da rede pública tiveram ocupação de 79,3%, com 149 internados para 188 vagas. O governo do estado anunciou que vai aumentar esse total, nos próximos dias, para 210 leitos, mas os especialistas não consideram essa medida suficiente para justificar o afrouxamento das medidas de prevenção, principalmente do isolamento social.
Outras medidas – Além do ‘lockdown’, o Comitê Científico recomendou ainda a criação, em todo o Estado, das Brigadas Emergenciais de Saúde, que são equipes de profissionais de saúde formadas para fazer a busca ativa de pessoas com coronavírus em cidades e povoados, aplicando testes, isolando e tratando os casos positivos. Duas destas brigadas foram criadas em Aracaju por iniciativa da Prefeitura e da Universidade Federal de Sergipe (UFS). "Como já
foram criadas duas brigadas na cidade, o C4 sugere que este programa sejaampliado de tal sorte a aumentar a busca ativa de casos em toda cidade", orienta.
O comitê defende ainda a retomada dos bloqueios sanitários para controlar a circulação de pessoas infectadas, como já aconteceu em algumas cidades do interior.