O semblante muito vivo da tradição
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Cordel, aqui e agora
Publicado em 27 de março de 2020
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
Aparentemente, meu pai frequentava as bo degas erradas. Menino, bebi muita espuma de cerveja, a fim de seguir os seus passos. Um violeiro afiado em redondilhas, coberto com a poeira das feiras, nunca encontrei.
O cordelista Eduardo Teles conta que escutou os primeiros versos na bodega da família. Pura sorte. Entre os sergipanos de gerações mais recentes, os livretos de impressão barata são como peças de museu, documentos estranhos ao ambiente doméstico, próprios de outro tempo.
Os cordelistas, no entanto, resistem, fazem versos sobre Deus e o mundo, firmes e fortes. Além do próprio Eduardo Teles, à frente da editora artesanal Vem das Nuvens, por exemplo, há também Izabel Nascimento, arroz de festa. Onde quer que a convidem a declamar, ela solta a voz segura de professora.
A mulher é danada! Na aparição mais recente, declama e rouba a cena, em vídeo clipe do Grupo Vocal Vivace, realizado pela Gonara Filmes. Ali, tudo é típico. Mas verdade que é bom, transborda mesmo da participação especial do poeta Pedro Amaro, o semblante muito vivo da tradição, e das rimas de Izabel.
Nordestina orgulhosa das próprias raízes, Izabel reclama o respeito devido a toda gente. Ela própria, Pedro Amaro, Eduardo Teles e tantos outros cabras da peste, um povo trabalhador e cheio de arte, fazem por onde e bem o merecem, mais do que ninguém.