Corolário de mentiras
Publicado em 20 de maio de 2021
Por Jornal Do Dia
O corolário de mentiras pronunciadas por aliados e membros do governo federal durante as oitivas da CPI revelam uma espécie de método. Ao ser confrontado pela realidade tangível, o bolsonarista mais fiel recorre a uma versão paralela dos fatos. Importa adequar o mundo inteiro à conveniência do presidente.
Neste particular, não há adversário párea para o ex-ministro Eduardo Pazuello. O ex-chanceler Ernesto Araújo colaborou como pôde para engrossar os anais da CPI, mentiu pelos cotovelos. Coube ao mais obediente dos colaboradores de Bolsonaro, no entanto, estabelecer um marco, uma linha divisória. Com exceção do próprio presidente, ninguém jamais mentiu tanto, em tão breve espaço de tempo, nem tão descaradamente.
O relator Renan Calheiros já avisou que vai compilar cada declaração mentirosa, em documento a ser apresentado ao fim dos trabalhos. Material não há de lhe faltar. Mesmo tendo o duvidoso direito de permanecer em silêncio, Pazuello mentiu com uma desenvoltura surpreendente. Pazuello omitiu detalhes sobre os acordos inicialmente não fechados pelo governo federal para a compra de doses da CoronaVac e da Pfizer; afirmou que o SUS cuidou de "todos os cidadãos", quando houve inúmeras notícias sobre UTIs lotadas, falta de oxigênio e escassez de medicamentos; e distorceu a decisão do STF que definiu competência compartilhada entre União, estados e municípios para ações de combate à pandemia. E por aí vai.
Hoje, Pazuello dá continuidade ao depoimento interrompido ontem. Deve seguir na mesma toada, mentir sem corar. Obediente como poucos, não se importa de emporcalhar a própria biografia, nem mesmo a imagem das Forças Armadas, desde que não cause problemas para o maior mentiroso de todos – justamente, o presidente Bolsonaro.