Diga-me o que lês, eu te direi quem és.
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Crônica de uma morte anunciada
Publicado em 24 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
O presidente Jair Bol
sonaro tem um li
vro de cabeceira: ‘A verdade sufocada’, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Trata-se aqui de um torturador terrível, o chefe da repressão nos anos sinistros da ditadura militar.
Embora não manifeste a menor preocupação com frescuras beletristas, o "mito" faz questão de declarar os próprios hábitos de leitura,na primeira oportunidade. Um tiro certeiro. Ele reforça assim os laços presumidos com os generais linha dura e ainda se apresenta como uma alternativa de carne e osso às cirandas da esquerda progressista – ninguém sabe se mais esnobe ou letrada.
Sejamos francos, o personalismo é moeda corrente no presidencialismo à brasileira. Os planos de governo não passam de uma carta de intenções muito vaga, jamais tiveram peso expressivo na composição das alianças políticas e nas escolhas do eleitorado. Portanto, se é assim mesmo, se um nome próprio vale mais do que as siglas antipáticas dos partidos, todos os candidatos a cargos eletivos deveriam fazer como Bolsonaro e comunicar, junto à declaração de bens, uma exigência da legislação eleitoral, as páginas pelas quais passam a vista nas horas vagas.
A tese é muito simples: Diga-me o que lês e eu te direi quem és. Ou, por outra, a biblioteca de um homem reflete sempre a sua personalidade. Longe de mim, julgar um livro pela capa. Mas, após a declaração reiterada de afeto tão escandaloso -as perversidades de um torturador sempre serão motivo de repulsa, entre os civilizados -, a participação de Bolsonaro em atos golpistas como o do último domingo, por exemplo, era perfeitamente previsível, favas contadas, a crônica de uma morte anunciada.
Eu tenho medo de quem conhece a bíblia de trás pra frente, de cor e salteado. Pior ainda, quando o sujeito destaca uma passagem qualquer e a cita em proveito próprio, sem atenção ao contexto, como bem entende. Tosco e abjeto, Bolsonaro certamente não tem pendor por sentimentos beatos, nem paciência para a infinidade de versículos que formam o livro sagrado dos cristãos, como dá a entender. De sua boca não saem verdades que libertam, apenas saliva, uma baba viscosa, mentiras, palavras.
Rian Santos
O presidente Jair Bol sonaro tem um li vro de cabeceira: ‘A verdade sufocada’, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Trata-se aqui de um torturador terrível, o chefe da repressão nos anos sinistros da ditadura militar.
Embora não manifeste a menor preocupação com frescuras beletristas, o "mito" faz questão de declarar os próprios hábitos de leitura,na primeira oportunidade. Um tiro certeiro. Ele reforça assim os laços presumidos com os generais linha dura e ainda se apresenta como uma alternativa de carne e osso às cirandas da esquerda progressista – ninguém sabe se mais esnobe ou letrada.
Sejamos francos, o personalismo é moeda corrente no presidencialismo à brasileira. Os planos de governo não passam de uma carta de intenções muito vaga, jamais tiveram peso expressivo na composição das alianças políticas e nas escolhas do eleitorado. Portanto, se é assim mesmo, se um nome próprio vale mais do que as siglas antipáticas dos partidos, todos os candidatos a cargos eletivos deveriam fazer como Bolsonaro e comunicar, junto à declaração de bens, uma exigência da legislação eleitoral, as páginas pelas quais passam a vista nas horas vagas.
A tese é muito simples: Diga-me o que lês e eu te direi quem és. Ou, por outra, a biblioteca de um homem reflete sempre a sua personalidade. Longe de mim, julgar um livro pela capa. Mas, após a declaração reiterada de afeto tão escandaloso -as perversidades de um torturador sempre serão motivo de repulsa, entre os civilizados -, a participação de Bolsonaro em atos golpistas como o do último domingo, por exemplo, era perfeitamente previsível, favas contadas, a crônica de uma morte anunciada.
Eu tenho medo de quem conhece a bíblia de trás pra frente, de cor e salteado. Pior ainda, quando o sujeito destaca uma passagem qualquer e a cita em proveito próprio, sem atenção ao contexto, como bem entende. Tosco e abjeto, Bolsonaro certamente não tem pendor por sentimentos beatos, nem paciência para a infinidade de versículos que formam o livro sagrado dos cristãos, como dá a entender. De sua boca não saem verdades que libertam, apenas saliva, uma baba viscosa, mentiras, palavras.