Crônicas musicais: Performance, cores e vinho
Publicado em 15 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia
O Jornal do Dia publica, sempre às quartas, uma série de artigos assinados pelo jornalista Antonio Passos. São textos ambientados nos anos de formação de uma empolgante cena musical sergipana, nos quais Passos relata o que viu e viveu de perto, in loco, no calor do momento.
***
Sexta-feira (18/05), a partir das 20h30 começaram a chegar à Galeria Álvaro Santos os convidados para a abertura da exposição de Gabriela Gouveia que, ao contrário do estampado em uma manchete do Jornal da Manhã, não é "sonâmbula". "Sonambulus" é, isso sim, o nome dado pela artista ao conjunto de obras expostas. Estiveram presentes artistas, políticos, mecenas, acadêmicos (docentes e discentes), jornalistas (alguns cobrindo o acontecimento, outros bebendo e papeando), os punks e metaleiros que passam os fins de tarde na calçada da catedral, yuppies e petistas, todos, na medida do possível, vestidos à moda de suas respectivas tribos.
A artista tem ligações com a expressão musical. Além de pintar e desenhar é vocalista da banda "Patos &Caípes" há nove meses, ou seja, desde a primeira apresentação da banda em setembro de ’89. Essa ligação fez com que a exposição, diferenciando-se da normalidade, contasse com uma produção musical específica. Dispensando a sonorização ambiente da galeria, foi instalada uma aparelhagem de som na qual o hip-hoper Carlos – que veio a Aracaju especialmente para o evento – conduziu a execução, a partir da abertura com "Pum Up The Jam", do Technotronic, de uma seleção musical que acabou levando alguns presentes ao exercício da dança. Quem gostou do hip-hoper carioca, ao que parece, foi a dupla Ricardo Fontes (ex-AcidOxe) e Luiz Eduardo (ex ou ainda – ninguém sabe – CroveHorrorshow). Os três conversaram muito.
Estiveram ainda presentes, entre outros, Sérgio Cafu, Amaral Cavalcanti, Roberto Lessa, Araripe Coutinho, Joubert Moraes, Marcelo Gaspar, Mercinho, Vilma Mota (revelação do III Fest-Livre) com suas inconfundíveis ombreiras, além de Caio Amado – recentemente contratado professor da UFS, ufa! – que, defendendo seu título de mais divertida e empolgante "talkinghead" da nossa academia, detonou suas já conhecidas risadas escandalosas e, como de costume, falou com qualquer um sobre qualquer coisa. Caio conduziu ainda uma das mais engraçadas cenas da noite ao apresentar Gabriela ao senhor Carlos Alberto Menezes, tratado de início pela artista com a mais absoluta normalidade. Quando Gabriela foi informada de que se tratava do vice-prefeito da capital, imediatamente passou a dirigir ao moço sérias reclamações pela buraqueira aberta, sob o comando da prefeitura, ao lado da galeria, interrompendo um dos principais acessos.
Ao final, uma funcionária da galeria, experiente servente que aos poucos está se tornando especialista em mercado sergipano de artes plásticas, afirmou solidária: "Muito bonito, pena que ela não vendeu nenhum!".
Publicação original em:Folha da Praia, Aracaju, 27 de maio a 02 de junho de 1990.