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‘For all’ para todos


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Publicado em 21 de maio de 2022
Por Jornal Do Dia Se


A sanfona de Mestrinho é força redentora no Forró Caju.

Rian Santos
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Quando Mestrinho subir ao palco, na praça de eventos dos mercados municipais, conciliará com a sua simples presença todas as contradições argumentando contra o Forró Caju. Intelectuais e povão finalmente concordarão em algo, rendidos pela sanfona, felizes da vida, como num passe de mágica.
Momento raro, numa festa desde sempre marcada por hiatos de sensibilidade. Governantes nos camarotes, entre asseclas e convivas. Governados com os pés na lama, dissolvidos em populacho. Não bastasse a estrutura própria de uma sociedade desigual, regida pela força da grana, há ainda os reflexos percebidos na programação. No palco principal, com as exceções de praxe, a representação mais rasa do gosto popular. Os verdadeiros artistas do povo se apresentam em um espaço menor, com estrutura modesta, em horários ingratos, de algum modo colocados à parte.
O Forró Caju já foi mais diverso e atencioso com os valores da nação nordestina. Em sua fase áurea, era capaz de dedicar todos os holofotes a atrações como as bandas naurÊa e a pernambucana Cordel do Fogo Encantado, responsável por uma performance inesquecível, um dos raros momentos realmente memoráveis em toda a história do evento. Jovens faziam cirandas na chuva. Nos últimos anos, entretanto, os intervalos de respiro e renovação ficaram cada vez mais estreitos, até restarem sufocados.
Não se pretende cometer aqui o pecado de falar pelos outros, arbitrando o que pode e o que não pode, apontar o bom, o mal e o feio, para lembrar o filme de Sergio Leone. Por trás do sucesso comercial de artistas da estirpe da Calcinha Preta e Devinho Novaes, entretanto, há razões muito evidentes, de cunho estritamente financeiro, e nenhuma força redentora, nenhum lastro musical.
“A alegria tem cheiro de suor”, segundo um achado espantoso do jornalista Reinaldo Azevedo (o leitor me creia!). E os donos do mundo não perdem oportunidade de capitalizar em cima da euforia de quem seja. Indiferente à esperteza de uns e outros, geral rebola. No fim das contas, o povo bem sabe por que dança e chora.

Santo de casa – O virtuosismo de Cobra Verde, o amor roxo de Joésia Ramos e a energia descontraída da banda NaurÊa provam aos mais desconfiados: em se tratando de forró, o santo de casa é bem bom de milagre, sim senhor. Foi somente com o fole do sanfoneiro Mestrinho, contudo, que a excelência dos nossos transcendeu as afinidades eletivas para, finalmente, ganhar o merecido status de verdade no mercado.
Está no sangue. Nascido em Itabaiana, Mestrinho é herdeiro de longeva dinastia, neto do tocador de oito baixos Manezinho do Carira, filho do sanfoneiro Erivaldo de Carira. Com a música inscrita no próprio DNA, tão presente em sua vida, Mestrinho começou a tocar sanfona ainda menino, aos seis anos, quando mal podia com o instrumento.
Desde pequeno foi influenciado pela música de Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho do acordeon, Hermeto Pascoal, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elba Ramalho, entre outros. Mal sabia que logo seria aceito como um igual entre os gigantes.
Mestrinho acompanhou Dominguinhos em diversos shows pelo Brasil, inclusive participando da última apresentação em Exu (PE), cidade natal de Luiz Gonzaga; trabalhou com Elba Ramalho por três anos, com participação no CD ‘Vambora lá dançar’, quando se apresentou em turnês nacionais e internacionais (Alemanha). Com Gilberto Gil fez turnês em festivais de jazz na Europa, Israel e Uruguai, e participou do lançamento do álbum ‘Gilbertos Samba’. E por aí vai.
Mestrinho tem ainda entre os próprios feitos o lançamento de um disco solo, intitulado ‘Opinião’ (2014). Além da participação de Gilberto Gil na faixa ‘Superar’, de autoria do próprio Mestrinho, há ainda a participação de sua irmã, Thais Nogueira, na faixa ‘Arte de quem se ama’, do compositor Elton Moraes. Uma estreia feliz, sinalizando a sucessão de sucessos, pavimentando o caminho do bom filho Serigy pelos palcos mais altos da aldeia.

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