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Publicado em 27 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Talento à margem do mercado

Rian Santos
[email protected]

Pedro Boeira jogou a toalha. Talvez a promessa de largar os pincéis, em busca de melhor emprego para a própria juventude, não passe de um impulso, uma decisão motivada por circunstâncias adversas. Mas se eu fosse um gestor de Cultura, com a responsabilidade de viabilizar as ambições criativas enraizadas na terrinha, acolheria a notícia como uma punhalada fria, com a vergonha inflamada de um reles derrotado.
Verdade seja dita: o artista sergipano vive na merda. Boeira, por exemplo, já fez de tudo para bancar as aquarelas que encantaram Luiz Adelmo, em exposição promovida pelo Salão dos Novos. Certa vez, perambulando pela madrugada do bairro São José, encontrei o artista coberto de poeira. Ele fazia um bico como ajudante de pedreiro. As telas assinadas com a sua assinatura modesta não davam para nada.
Reafirmo aqui, sob o pretexto do episódio, o meu ceticismo em relação aos espaços dedicados à Cultura Serigy, inaugurados com muita pompa e pouco proveito para os operários da sensibilidade nativa. A vistosa galeria do SESC, por exemplo, está perfeitamente equipada para acolher o trabalho de nomes consagrados, a exemplo da exposição do sertanejo Véio, aberta a visitação desde o ano passado. Mas, carente de projeto, não move uma palha para que artistas talentosos despistem a fome, à margem do mercado.
O pior de tudo, o trabalho de Boeira é perfeitamente vendável. Não se trata aqui de um artista ‘avant garde’, dedicado a experiências cabeçudas, satisfeito de se comunicar apenas com intelectuais de nariz empinado. Longe disso. O seu trabalho está mais para Tintiliano do que para Alan Adi ou Fábio Sampaio.
Claro, há sempre alguma dose de responsabilidade individual sobre o destino que pesa sobre cada um. Esta, no entanto, não exime gente bem paga para abrir caminhos de permanecer com os braços cruzados, enquanto todas as trilhas se fecham, tomadas pelo mato.

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