Sexta, 19 De Abril De 2024
       
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O dia que durou 21 anos


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Publicado em 03 de agosto de 2013
Por Jornal Do Dia


Uma bandeira levantada na memória da luta pela verdade

* Anderson Bruno

A ditadura militar no Brasil marcou a história do País. A ocupação dos militares – no lugar da classe política – para comandar a nação, se revelou num dos mais deploráveis capítulos da nossa história recente. O documentário ‘O Dia que Durou 21 Anos’ (Camilo Tavares, BRA, 2012, 77 min) faz um apanhado da origem de todo esse mal. Sua gênese nos remonta a questões de origem global, não apenas com referência à soberania nacional.

O diretor usou e abusou de entrevistas, fotografias e imagens de arquivo em vídeo para ilustrar o quanto a guerra fria dominava o planeta lá pela década de 1960. Dentro desse contexto o Brasil foi exibido como a um país frágil à época, manipulado de maneira muito fácil pelos Estados Unidos da América. A revelação desse fato, já sabido outrora por todos, aqui toma proporções revoltantes vistos as provas de testemunhos, telefonemas e arquivos revelados no filme.

O interessante é perceber o clima de paranoia presente na passada década sessentista. Qualquer fagulha comunista era completamente dizimada pelo capital dominado
majoritariamente pelos Estados Unidos. A constatação de um Brasil neo-colonial é visível nesse contexto. Ainda no século XX, o poderio político ianque se revelou dentro das nossas casas.
Mais uma afirmação dos meandros dos bastidores políticos. Pauta bem atual, por sinal. É só lembrar o ex-agente da CIA, Edward Snowden. Desde que revelou a espionagem americana sobre todo e qualquer cidadão do globo, este se viu obrigado a pedir asilo político na Rússia (principal país comunista da antiga União Soviética). O pedido foi aceito rememorando, em até certo ponto, o antagonismo desses dois países nos anos de guerra fria.

O documentário é intenso em sua narrativa. O passo a passo da história da submissão brasileira para com os Estados Unidos faz-nos devorar cada palavra das entrevistas concedidas. Sua condução não é didática, tendo na trilha sonora uma referência de linguagem cinematográfica. Ela pontua vários momentos, dos mais lúdicos aos mais sérios.

Acompanhamos, juntamos as peças como a um quebra-cabeças e vemos o quanto fomos usados tanto por John Kennedy quanto pela junta militar. ‘Os americanos entregaram a Caixa de Pandora aos militares. Uma vez aberta, os fardados liberaram todo o mal dela’. Essa frase é dita em determinado momento da produção. O que fica, depois de assistir ao material, é que durante vinte e um anos pessoas foram cerceadas de direitos, molestadas e mortas por pura demonstração algoz de poder. Um momento em que você percebe uma brecha e a toma pra si. A partir daí você faz o que você quiser. Os militares seguiram essa cartilha à risca! Foi exatamente o que ficou entendido nas linhas de ‘O Dia que durou 21 Anos’.  

Mesmo se resumindo a pontuar os líderes militares, subseqüentes ao Ato Institucional número 5 (documento máximo de intolerância artístico-sócio-político do período) o documentário enaltece momentos importantes dessa fase como a derrubada de João Goulart do poder, o assassinato do estudante Edson Luís numa das manifestações de rua (com imagens em movimento, por sinal) e a troca de prisioneiros pela vida Charles Elbrick, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Predicados que fazem desse filme mais uma bandeira levantada na memória da luta pela verdade de uma época sombria e que, por mais encerrada que possa estar, continua viva para aqueles sem respostas de perguntas não respondidas há décadas.

* Anderson Bruno é crítico audiovisual.

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