O forró de meus sonhos

Rian Santos
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Um menino me acena de longe, alegre, coberto pelo verniz ocre de outro tempo, irreal. Tabaréu de apartamento, ostenta chapéu de palha e bigodes falsos, remendos encomendados à costureira da família, acredita piamente no dente pintado de podre das meninas. De verdade, suponho, resta a fotografia – mas como dói!
O forró de meus sonhos cabe numa Polaroid. Modesto, doméstico, muito diferente dos grandes eventos anunciados pelo poder público municipal sob o justo pretexto de alegrar as massas. Em minha lembrança há calor de fogueiras, papoco de bombas, limalha de busca pé e outros fogos de artifício. Os jovens se apalpam no escuro, por tesão, por brincadeira, enquanto famílias inteiras jogam conversa fora, à porta de casa, até bem tarde. Há música alta e comida farta. É São João, afinal.
Nordestino como eu, um pouco mais velho, talvez, o prefeito Edvaldo Nogueira certamente guarda esta mesma fotografia no baú de suas lembranças mais queridas, enverga o mesmo figurino de tabaréu em dia de festa, com idêntica disposição para o arrasta pé. Diferente de mim, no entanto, ele agora tem responsabilidades, precisa dar satisfações, gerar renda. Não pode se deixar levar pelo braço, mãos dadas com a nostalgia.
Para gente como eu, doente de saudades, a Prefeitura de Aracaju faz também um aceno, uma concessão. Trios pé de serra, quadrilhas, grupos de cultura popular e barracas de comida típica animarão a praça general Valadão durante todo o período junino – desde o dia 31 de maio até 23 de junho, das 14 às 21 horas. Edvaldo reconhece, assim, que o Forró Caju já não é movido a sanfona, triângulo, zabumba. Mas a cifras de milhões.
It’s all business! Na praça General Valadão, contudo, os santos de junho serão celebrados à moda antiga – quando eu era feliz e nada mais.