Sábado, 20 De Abril De 2024
       
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O perigo na esquina


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Publicado em 29 de julho de 2022
Por Jornal Do Dia Se


O diabo mostra o rabo

Rian Santos
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Há alguns anos, véspera de eleições, Elenilton Pereira me chamou a sua sala e sugeriu a redação de um artigo sobre o risco de a população eleger um candidato fake, produto pronto e acabado de marketing, um poste. O texto nunca vingou, apesar do empenho prometido. Não se escreve algo do gênero sem um monte de palavras presas na garganta. Hoje, no entanto, contra todas as previsões, o diabo mostra o rabo. Bolsonaro não esconde a intenção de dar um golpe.
O medo não é bom conselheiro, mas escreve como ninguém. Basta mencionar ‘A peste’, de Albert Camus. ‘A náusea’, obra maior de Sartre, transpira terror e impotência da primeira à última página. Mais recente, ‘O ensaio sobre a cegueira’, inspiração de um comunista anacrônico, José Saramago, segue na mesma toada. ‘Nêmesis’, o derradeiro livro de Philip Roth, gênio sem o Nobel, é um arrazoado derrotista sobre a paranóia. Quando o mundo paralisa, tomado de pavor, só a criação move.
Eu temo por mim mesmo e todos os amigos a quem ninguém enxerga. Somos – os pretos, os pobres, as putas, os viados -, como o artista circense, ocupado com malabarismos nos cruzamentos mais movimentados da cidade. O sujeito desafia a gravidade, no intervalo do sinal fechado. Mas se não mendigar moedas, como todo operário da fome, impassível, ante as janelas fechadas dos carros, termina o dia sem um tostão furado.
Triste de quem deposita a sua última esperança numa aventura e acredita piamente nas promessas vazias dos salvadores da Pátria. Deve-se a crença assim estúpida a eleição de Jair Bolsonaro. No governo daquele que prometeu dar fim à corrupção, 135 mil mortos foram beneficiados com o auxílio emergencial – um prejuízo estimado em R$ 336 milhões.
Há perigo na esquina. Entre a falta de imaginação e o mal maior, com pigarro e tudo, cuspido, escarrado, era previsível, a aposta mais certa se confirmou: Deu tudo errado. Não bastasse a corrupção e a fome, Bolsonaro mexe os pauzinhos. Sem previsão de votos na urna, ele acena com um golpe.

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