Os ofícios da criação

Rian Santos
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À frente do sistema Fecomércio, Laércio Oliveira pintou e bordou após a inauguração da galeria de artes do SESC, ao fim do ano passado. Abordou artistas, falou de sua preocupação com os tambores da aldeia, mostrou-se parceiro dos agentes da Cultura Serigy. Agora, meses depois, quando a bela exposição de Véio desocupa o espaço, o deputado terá oportunidade de demonstrar o empenho então alegado – na prática.
Trata-se aqui de saber a que espécie de projeto a galeria servirá. O artista Antonio da Cruz já botou a boca no mundo, a fim de denunciar uma estranha guinada da instituição no trato com os agentes da cultura local. O edital de credenciamento Redes Culturais do SESC em Sergipe, lançado em 2021, exigiu formação de nível superior aos proponentes de projetos ligados às artes visuais. Cruz creditou a exigência a um “arroubo elitista”.
De fato, assim parece. De pouco adiantará a inauguração de uma galeria moderna, se esta for ocupada exclusivamente por uma casta de doutores, senhores repletos de bons modos, com a cabeça calva e as mãos limpas. Nos ofícios da criação, o trabalho de Véio é prova, a intuição dá baile em bibliografia. Se os catálogos de arte contemporânea são conhecidos pelo palavrório enfadonho, isso não deve ser creditado a quem põe a mão na massa.
A polêmica completa aniversário sem chegar a bom termo. Após a repercussão do artigo de Cruz, a senhora Aparecida Farias, diretora regional do SESC, voltou à carga, confirmou a exigência de diploma. E ainda atribuiu as diretrizes adotadas pela instituição à pessoa de Laércio Oliveira. A construção da nova galeria, por exemplo, teria atendido a uma inspiração do deputado. Se é assim mesmo, a responsabilidade pela ocupação do espaço, o acesso ou o embargo dos artistas locais, deve ser creditada a ele, também.