Sexta, 19 De Abril De 2024
       
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Sergipe não merece Amorosa


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Publicado em 13 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Filha ilustre de uma terra ingrata. (Fábio Pamplona)

Rian Santos
[email protected]

Escrevo à beira da amargura, tomado pelo temor de soar mal agradecido. Mas este que já me pareceu o melhor ofício do mundo também tem um lado avesso e, por vezes, a memória claudicante da aldeia despenca sobre a minha mesa, à luz do dia, como um fardo sobre as costas.
Lembro de Araripe Coutinho, tão elegante e tão pobre, até a morte. Penso em Amorosa, a quem ele chamava Estrela, uma artista subordinada aos mistérios do céu, filha ilustre de uma terra ingrata. Para minha própria surpresa, compreendo finalmente o preço que um e outra pagaram para honrar um dom magnífico em meio a ouvidos moucos, assumiram o risco de falar às paredes.
Anos atrás, Amorosa declarou aos quatro ventos: obediente à voz do Alto, um sopro que lhe cresce por dentro, iria abster-se de cantar em eventos bancados pelo poder público sergipano. Eu, cá comigo, herege todo, pensei que agindo assim a cantora procedia muito bem. Para ser recompensado, uma perversão muito reveladora, o talento Serigy tem antes de receber o aval do povo de fora.
Joel Silveira não teria se tornado o maior repórter do Brasil batendo ponto na redação de um jornal em Aracaju. Poderia escrever com o mesmo brilho, um gênio mal remunerado. Ainda assim, acabaria enterrado em vala comum, junto aos indigentes da profissão, apenas mais um no túmulo pestilento de nossa memória pouca.
Quantos se lembram da banda Lacertae? A Reação teria o mesmo prestígio, sem a bênção de Falcão (O Rappa)? The Baggios seria apreciada do mesmo modo, sem a indicação ao Grammy, os festivais espalhados pelos quatro cantos do País, o palco do Lollapalooza? Sem auto estima suficiente, ninguém bate palmas por vontade própria, falta força.
Ontem, 37 anos depois de estrear na Taberna do Tropeiro, Amorosa celebrou a própria carreira, feliz pelas escolhas assumidas ao longo de percurso tão longo. Lá atrás, quando as portas de uma carreira de projeção nacional se abriram, a cantora deu um passo para trás, decidida a fincar raízes em Sergipe. Só ela sabe de suas razões. Os filhos, uma neta, o conforto da religião, Amorosa assegura, recompensaram a sua aposta.

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