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Sobre qualquer cidadão brasileiro


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Publicado em 13 de julho de 2013
Por Jornal Do Dia


Identidade nordestina em evidência

* Anderson Bruno

Marcando a reinauguração oficial do Cine Vitória, o longa-metragem ‘Aos Ventos que Virão’ (BRA, 2012, 96 min) foi exibido marcando o acontecimento. Rodado quase que integralmente na cidade sergipana de Poço Redondo, a produção do cearense Hermano Penna, não poderia ter chegado em melhor hora!
O Brasil passa por um momento importantíssimo em sua história. Deflagrado pelo movimento ‘Passe Livre’ de São Paulo, toda a nação foi (e ainda está indo) às ruas do país numa verdadeira febre político-reivindicatória de direitos básicos a todo o cidadão. A causa direta desse levante popular está no descontentamento do povo com a classe política representada nas câmaras de vereadores, gabinetes de prefeitos e governadores, bem como no Congresso Nacional.
‘Aos Ventos que Virão’ narra a história de Zé Olímpio (Rui Ricardo Dias), ex-cangaceiro que tenta a vida na ‘cidade das oportunidades’: São Paulo. Baseada em acontecimentos verídicos, entre 1940 e 1960, nosso protagonista é a exata representação de cada indivíduo presente nas passeatas Brasil afora.
Com um sóbrio trabalho na direção, Hermano nos faz acompanhar a trajetória deste sertanejo de maneira lenta e digna. A dignidade aí está aludida na narração imagética deste homem. A especificidade regional está na produção para delimitar a identidade sócio-cultural da personagem. Mas o que interessa, na verdade, é a sua representação macro. O filme não trata apenas do homem do sertão. É sobre qualquer cidadão brasileiro.
Tratando os meandros políticos como tema perene, o roteiro (do próprio Hermano Penna com a colaboração de Jaqueline Tavares e Paulo Sacramento) mostra o homem político centralizador de poder. A figura do Coronel está lá. Do outro lado o povo, opaco e de mãos atadas a esse sistema de representação popular. A textura do preto e branco, logo no início do filme, é o simbolismo de um fato cotidiano brutal, ácido, sem cores e anacrônico. A válvula de escape se mostra no movimento popular representado por cangaceiros, controversos em suas atitudes. Politicamente nada muda para o homem simples.
A Direção de Arte de Jefferson Albuquerque Jr. é bem econômica nas cenas externas da cidade de São Paulo. As tomadas fazem referência à passagem de Zé Olímpio e sua esposa Lúcia (Emanuelle Araújo) pela capital paulista na década de 1950. Momento importante pela consciência interna enquanto ser do interior nordestino e, mais que isso: enquanto ser humano. Tal condição é deflagrada também pela política. A da opressão, do preconceito e da discriminação.
Nasce um justiceiro. A câmera acompanha sua saga em planos longos e sempre em movimento, como uma personagem ocular da situação. Ao som de rabecas, bumbos, triângulos e pífanos – trilha sonora de José Luís Penna e Tiago Araripe – acompanhamos sua jornada. A identidade nordestina sempre está em evidência.
A falta de um referencial mais direto – de um plano a outro na passagem do tempo da narrativa – é um sintoma um tanto negativo no filme. Nosso olho interpreta como uma continuidade da ação anterior, quando na verdade houve uma mudança de tempo e espaço. Apenas quando uma cidade é citada ou o ano corrente é referendado, percebemos essa transmutação.
Zé Olímpio – assim como o povo que vai às ruas nas manifestações Brasil afora – é o legítimo representante brasileiro cansado da política escusa de seu país. A salvação? A própria política centralizada em Brasília! Todo vento tem a sua hora certa de soprar.

* Anderson Bruno é crítico audiovisual.

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