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Um grande negócio


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Publicado em 16 de agosto de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Podre de rico

Rian Santos
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Um cristão bem informado tem hoje razões de sobra para corar de vergonha, confrontado pelo noticiário. Não bastasse uma retrógrada campanha eleitoral, os contornos tenebrosos de uma guerra nada santa, há também complicações de natureza fiscal e trabalhista ligadas às organizações religiosas. Pastores podres de rico usam o púlpito como palanque e entreposto comercial. Tudo reunido, comércio e política, o constrangimento tem o potencial de ruir as catedrais.
Leio na Folha: Uma entidade ligada à Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, é alvo de uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho. Pairam sobre a Fundação Internacional de Comunicação (FIC), braço midiático da igreja neopentecostal, acusações de violência psicológica, discriminação etária, discriminação de gênero, raça e orientação sexual, entre outras infrações trabalhistas. De acordo com os procuradores, há denúncias de veto à contratação de negros, mulheres acima de 50 anos e homossexuais.
Nada disso espanta, não é novidade para ninguém. Amparada em preconceito, a teologia da prosperidade não passa de um grande negócio. Quem frequenta os cultos evangélicos está acostumado com o apelo monetário realizado no púlpito dos templos. Além de pagar o dízimo, os fiéis são assediados o tempo todo com a oferta de amuletos, bênçãos, porções mágicas.
Em plena pandemia, quando os templos foram obrigados a fechar as portas, por exemplo, o pastor RR Soares recorreu aos meios eletrônicos, na tentativa de manter o fluxo de caixa. Máscara no rosto, de frente para a câmera, o pastor ameaçou: quarentena não era desculpa para um “cristão de verdade” faltar com as suas obrigações. Carente das ofertas antes realizadas em dinheiro vivo, a igreja recolheria doações e pagamentos por transferência bancária.
Aqui, não se trata das questões de fé, um assunto de foro íntimo. Mas as pretensões mundanas dos pastores evangélicos, a tentação de sobrepor o próprio credo e modelo de negócios ao império da Lei, é tema de interesse público. Como argumenta Salman Rushdie, perseguido pelos fanáticos do islã: “A religião saiu do espaço privado. Na esfera privada, ela não é da conta de ninguém, restrita aos crentes e o seu deus. No momento em que ela se desloca para a esfera pública, ela passa a ser da conta de todo mundo”.

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