Uma cena de novela

Rian Santos
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O espetáculo ruim da campanha eleitoral já invadiu todas as telas, estraga conversas, contamina o espírito da aldeia. Falo por mim, ao menos. Há 90 dias do pleito, faço contas, inconformado com o passo arrastado do tempo, não vejo a hora de tudo acabar.
Outro dia, um candidato com pendências na Justiça desembarcou no acanhado aeroporto de Aracaju, onde meia dúzia de cabos eleitorais fardados o aguardava, a fim de abafar com as imagens de uma celebração mal ajambrada a derrota certa sofrida na barra dos tribunais. O roteiro não poderia ser mais simplório. Inelegível, Valmir de Francisquinho sacou uma bandeira de Sergipe e caiu nos braços da “multidão”.
Marqueteiros de todos os quilates bem o sabem, a melhor imagem não tem preço, vale mais do que mil palavras, na conta bem feita pela língua grande do povo. Pois aquela lançada e replicada pela turma de Valmir é uma cena de novela. Ali, consagra-se o ‘outsider’, uma suposta vítima do sistema. A imagem sem foco, captada por uma câmera de aparelho celular, se atém apenas ao que interessa, o suposto carisma de um candidato sem chapa, vitorioso antes mesmo de receber um único voto – Eis a essência da manipulação.
A disputa pelo governo de Sergipe ocupa todas as esquinas das redes sociais, mas ainda não produziu uma única linha, uma vírgula sequer de pensamento. Do lado da situação, reuniões realizadas a portas fechadas selam traições. Na trincheira oposta, argumenta-se que a contagem de votos seria desnecessária, o populacho já teria escolhido o seu governador.
Não há personagem cativante em tal estória surrada. Uma rinha de galos tem mais Shakespeare do que o pugilato sem luvas de Belivaldo Chagas, Fábio Mitidieri, Rogério Carvalho e Valmir.