De cara cheia na live

Rian Santos

Zero simpatia por  Gusttavo Lima. Para  mim, cantor sertanejo é gente de outra linhagem, da estirpe de Elomar Figueira de Melo e Xangai. Um surto de caretice reguladora, no entanto, transformou o fulaninho dos sucessos descartáveis em vítima das circunstâncias. A acusação é ridícula. Bancado pela Ambev, ele resolveu encher a cara numa live.
A polêmica provocada pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária – a sigla Conar parece nome de remédio -tem a mesma substância de um balão inflado.A denúncia cita "a ingestão de cerveja, em potencial estímulo ao consumo irresponsável do produto". Trata, em suma, os seguidores do artista como crianças.
Não quero me gabar. Neste particular, entretanto, Gusttavo Lima não é páreo para os meus amigos. Temo, é certo, pelos efeitos do isolamento social sobre o fígado e o juízo dos mais queridos. Mas não esqueço que são todos homens feitos, capazes, inteligentes, adultos cultos e vacinados.
Pobre de mim, se resolvesse seguir os passos dos meus artistas preferidos. Bach frequentava a missa. A turma do Jazz era movida a heroína. O pessoal das letras não tem vergonha de pedir favores, paga todas as contas com dinheiro emprestado.
Não à toa, Platão expulsou os poetas da República. Gente de muita imaginação costuma ceder a impulsos. Mais uma vez, lembro dos amigos. Se os encontro num dia, para falar mal dos ausentes, reservo outros três para curtir a ressaca.