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DE FATO E DE FICÇÃO


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Publicado em 06 de agosto de 2016
Por Jornal Do Dia


Chegamos a uma fronteira onde o fato e a ficção se misturam. E o fazem de tal forma, e o fazem tão rápido, que nem tivemos tempo ainda de parar, e sobretudo de refletir.
Quando acabou o ano 1984, dissemos: Olha ai não aconteceu. Onde está o Grande Irmão, o Big Brother, poderoso, envolvido naquela bruma de mistérios que separa todos os ditadores da gente comum, que os afastam até do mundo real?
Onde estão as câmeras intrometidas, fiscalizando todos em todos os lugares?
Onde estão os agentes do Estado se imiscuindo na vida, monitorando os passos e o pensamento das pessoas?
No réveillon de 1985, o ano que findava não confirmou a previsão sinistra feita pelo escritor George Orwell no livro a que deu o título sintético e numeral: 1984. Naquele ano, segundo a futurologia orweliana , o mundo seria uma espécie de prisão virtual, onde o Big Brother estaria presente, atento, vigilante, estendendo vistas e ouvidos por todas as casas, apartamentos, fábricas, escolas, ruas, estradas, campos, utilizando-se dos recursos ilimitados da tecnologia, da ciência posta a serviço da dominação da humanidade.
George Orwell escreveu suas previsões aterradoras pouco depois de combater, como voluntário, nas tropas antifascistas, derrotadas na Guerra Civil Espanhola. O mundo caminhava para a Segunda Grande Guerra e ele assistia amedrontado a ascensão dos estados totalitários. O escritor morreu cedo, aos 47 anos em 1950, e nem pode confirmar ou desmentir o que houvera previsto.  Ele nem imaginaria que o seu Big Brother seria transformado num show de sacanagens: o cabaré virtual onde o sexo vira mercadoria, na engrenagem capitalista que Orwell detestava.
Sem exageros agora podemos afirmar: 1984 está ai, presente agora três décadas depois.
Mergulhamos no mundo virtual. E ele é perigoso. Se não temos ainda o Big Brother , estamos em vias de criar um Estado policialesco, estimulado pelo pavor que espalham os terroristas, pelo calafrio que perpassa as espinhas dos poderosos do mundo, sentindo que são vulneráveis a um hacker qualquer, instalado longe, no terceiro mundo em alguma favela imunda de Bangladesh ou do Burundi.
As pessoas há muito tempo deixaram conversar vendo uma o olho da outra. Apenas digitam, olham as telinhas. Quando aqui no Brasil a delação premiada tornou-se moda, ou modismo, veio com ela a banalização da escuta telefônica como arma da policia e da Justiça. Só que esses instrumentos de intromissão não ficam sobre o controle da sociedade, são restritos os que a ele têm acesso. Em qualquer ¨cacete-armado¨ vendendo buginganga chinesa se compra aparato eletrônico de espionagem e invasão.
E de tanto banalizar o que antes seria inadmissível, que é a violação pelo Estado ou por quem quer que seja da intimidade e da inviolabilidade do pensamento e das manifestações das pessoas, agora, qualquer canalha pode tirar proveito da molecagem eletrônica e com ela tornar-se um herói delator.
É, embora tardiamente , o Big Brother de Orwell chegou, está entre nós, e causando estragos. A ele ficamos todos submetidos e inertes.
O Big Brother, depois, faz acordos de leniência e vai morar em Itaipava.

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