Deuses e guardiães da alienação
Publicado em 20 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
“Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar”
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Vamos sorrir, meu povo sofrido brasileiro, como está você agora na faixa de sessenta, oitenta, noventa, cinquenta anos, sem ter tido a chance de se graduar, ou mesmo concluir seu estudo médio?
Se fizermos uma pesquisa profunda sobre o que sobrou de todas as compilações e estatísticas sobre o desenvolvimento humano, especialmente, no Brasil. Iremos nos deparar com aberrações em termos de deseducação familiar ao longo do tempo.
Tenho um artigo publicado aqui nesta casa hospitaleira e progressista Casa, a respeito de como o nosso alunado, já aterrissa no ensino fundamental e médio com uma postura adquirida: a cultura do “Ah, tá bom!”, que muito já ouvi dos lábios inocentes de alunos, em minha trajetória pública junto aos discentes, o que me levou a tecer o tal artigo, que inclusive virou peça de teatro, em Petrópolis, há alguns anos.
Certamente, para os tubarões do Mercado, pessoas como eu não interessem muito, afinal o excesso de criatividade, e altruísmo aliado a ética não agrada muito ao show business ou similar.
Tudo é muito bem planejado, principalmente aqui nestas terras tropicais, que mantém uma população de dez milhões de analfabetos: “Não conseguir ler nem mesmo o título desta reportagem é a realidade de quase 10 milhões de brasileiros. Apesar da queda na taxa de analfabetismo no País em 2022, os números ainda são altos, principalmente ao se tratar de idosos, da população do Nordeste e de pretos e pardos. É o que revela os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de junho deste ano. Essa realidade dificulta o cumprimento da meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de erradicar o analfabetismo até 2024.”
Como fica nítido, a classe dos chamados idosos (eu prefiro o termo experientes) são a maioria presentes nesta pesquisa. Isto nos revela quanta alegria entorpeceu a mente destes indivíduos, que não conseguiram seguir uma trajetória acadêmica perfeita.
“O Brasil caiu duas posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado nesta quarta-feira (13) pela Organização das Nações Unidas (ONU). O país passou a ocupar a posição 89 da lista, que tem 193 países. Este fragmento data de março de 2024.
Porém, o que importa é termos bastante alegria, que sempre fora jorrada do mundo do entretenimento do mundo da massificação, que foi inaugurado com o rádio, perpassando a televisão e alcançando às redes sociais on-line, pelas ondas da internet.
Os deuses dinheiristas compram seus guardiães, e estes por sua vez têm a missão sagrada/profana de cooptar as presas na Floresta da Ignorância planejada, e depois levá-las para o banho da alienação eterna, como na política de capitanias hereditárias no Brasil: herança de pai para filho.
E historicamente seguimos, vendo a derrocada de uma sociedade, que sofre com a imposição midiática que os distrai do sofrimento dos péssimos salários, incluído o “mínimo”. Os tradicionais guardiães: futebol e carnaval estão tendo novos concorrentes: o mundo das palestras dos coaches, novos ricos, que fingem serem filósofos. Se fizermos um gráfico para medir o índice da alienação e da escolarização dos anos 1950 e 2023, por exemplo, iremos perceber que haverá uma considerável variação do primeiro em relação ao segundo, ou seja as pessoas atualmente estão sem o anticorpo da desalienação.
Que estrago, que as chamadas vídeo cassetadas fizeram, ao criar uma sociedade do espetáculo ainda mais voluptuosa, mais debochada e sem empatia do que nunca. Os programas vulgares e sem nexo, transmitem falta de conhecimento e entulham as lixeiras da web, separar o joio do trigo não é tarefa para incautos. Daqui a pouco não teremos mais concorrência, e sim, um hegemônico protetorado, que subjugará você professor de química, de biologia, ou você poeta; e os condenará a assistir 24 h aos seus storytellings recheados de tolices desprezíveis, e se bobear sob pena capital.
“Qualquer sala de aula se constitui em um espaço democrático, que requer debate, e os alunos, etimologicamente são seres em alumiação e o processo educacional é PERMANENTE. Aqui e agora, ao escrever este texto, se estabelece um processo de ensino e aprendizagem onde o conhecimento e reflexão são a tônica; e mesmo sem o espaço físico, o leitor sofrerá um despertamento, e/ou não conformismo na busca de mais conhecimento.
Os deuses e guardiães burgueses e imperialistas não desistirão, cabe a você meu nobre leitor lutar por um mundo mais justo, onde o horizonte de alienação televisiva ou similar não consiga te desanimar para transformá-lo, apenas, em um invisível qualquer, caso não queira que os guardiães fiéis dos deuses da alienação continuem sendo capturados na Floresta escura da Ignorância para obrigarem suas vítimas mais distraídas a serem apenas mais um número de CPF sem valor e sem capital político, econômico e cultural, afinal “do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar…”
* Valéria Guerra Reiter, escritora, historiadora, atriz, diretora teatral, professora e colunista