A guitarra predomina (Divulgação)
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Dez anos depois
Publicado em 17 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Jazz e rock se transformaram em objeto de culto de
grupos restritos, para poucos e bem informados. Fato consumado. Não há o que lamentar. Há quem invista, entretanto, no caminho inverso e pegue a contra mão deliberadamente. Não chega nem perto de ameaçar o atual estado de coisas (it’sall business, baby!). Mas às vezes redunda em música de primeira.
O guitarrista Igor Gnomo é desses. Apesar do batismo afetado de seu segundo disco, ‘Alquimia | Trilhos | Poesia’ (2014), os temas aqui reunidos não têm nada de herméticos ou inacessíveis. Muito ao contrário. Gnomo teve a manha de subordinar o virtuosismo que lhe rendeu merecida distinção e trânsito livre entre os melhores instrumentistas de sua geração a um sotaque melódico de fácil apreensão. O resultado é uma música vibrante, repleta de elementos populares. Não vai tocar no rádio. Mas devia.
O disco é composto por 11 faixas, todas assinadas por Gnomo. A guitarra predomina, naturalmente, mas o autor se fez acompanhar por uma banda que não fica lhe devendo em nada e soube aproveitar o embalo acelerado das seis cordas para se divertir com fraseados discretos e uma ruma de groove. André Jumper (baixo), Gláucio Barreto (bateria) e Gildo Moreira (percussão) seguram a onda, sorrindo.
Se uma definição fosse necessária, a música de Gnomo poderia receber o rótulo cafona de smooth jazz. Não é sempre plácida, como a classificação sugere. Vez ou outra resvala em pieguice, como na desnecessária faixa de abertura, de um didatismo ingênuo. Aqui, contudo, basta destacar a aproximação pretendida entre a música instrumental e ouvidos leigos, como os deste que vos escreve. Neste sentido, o guitarrista não poderia ter sido mais feliz.
Dez anos não são dez dias. Para celebrar o aniversário de seu primeiro álbum mais bem resolvido, Gnomo promete lançar releituras do registro em todas as plataformas de streaming, o quanto antes. Como a sacudir a poeira sobre o aço das guitarras, a lâmina mais afiada do que nunca.