DIOCESE DE ESTÂNCIA: 60 ANOS DE CRIAÇÃO
Publicado em 30 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia
* J. Cruz
No dia 30 de abril a Diocese de Estân- cia completa seu sexagésimo ani- versário de criação. Mas para que ela fosse criada foi necessário um longo caminho a ser percorrido que começou no século XVII com os fundadores da povoação de Estância. De acordo com dados históricos, Pedro Homem da Costa e sua esposa Mércia Cardoso, após receberam a "concessão da Sesmaria feita através de uma carta assinada pelo capitão-mor João Mendes, a 16 de setembro de 1621, passando para ambos os sesmeiros, três léguas quadradas de terra às margens do rio Piauí" (FRANÇA e GRAÇA, Vera e Rogerio: "Vamos conhecer Estância" 2000: p. 28). Tempos depois Pedro Homem da Costa com seus familiares ergueram uma Capela em louvor a Nossa Senhora de Guadalupe. A partir daí a nova povoação que recebeu o nome de Estância, que só fez crescer tanto no campo religioso, social e econômico. Com a transferência da sede da Vila de Santa Luzia do Rio Real (hoje Santa Luzia do Itanhy) para Estância em 25 de outubro de 1831, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe que teve como seu primeiro Vigário o Pe. Miguel Teixeira de Araújo Santos.
Neste período, toda a Região de Sergipe era assistida pela Diocese de São Salvador da Bahia que tinha sido criada em 25 de fevereiro de 1551 no governo de Tomé de Souza. Passaram-se os anos, muitos fatos aconteceram no Brasil, passando de Colônia a Império e depois República, a província de Sergipe ficou independente da Bahia, mas sua população continuou sendo assistida religiosamente pela Arquidiocese de São Salvador que tinha sido elevada a esta categoria em 16 de novembro de 1676. Somente em 03 de janeiro de 1910 pela Carta Apostólica do Papa Pio X, "Divina Disponente" que foi criada a Diocese de Aracaju que teve como primeiro Bispo, D. José Thomas Gomes da Silva que tomou posse da Diocese em 4 de dezembro de 1911. Com isso a paróquia de Estância deixou de pertencer a Arquidi ocese de São Salvador fazendo parte da recém criada Diocese de Sergipe, pois, ela abrangia todo o Estado.
Depois de 50 anos, no dia 30 de abril de 1960, através da Bula "Ecclesiarum Omnium" do Papa João XXIII, foram criadas as Dioceses de Estância e Propriá com a Província Eclesiástica de Aracaju (Arquidiocese). Com essa decisão a Paróquia de Estância foi elevada à categoria de Diocese passando ser a sede diocesana. Convém destacar que uns dos itens que levou a autoridade eclesiástica a escolher Estância para ser a sede da Diocese foi a construção da BR 101 que iria facilitar a locomoção do Bispo para os centros maiores (Aracaju e Salvador). De acordo com as normas da Igreja, tendo em vista que as Dioceses de Estância e Propriá foram criadas na mesma data, a instal aç ;ão em Estância deveria ter ocorrido em 09 de outubro do mesmo ano, que foi o que aconteceu com a de Propriá, 16 de outubro, uma questão de ordem alfabética. Mas qual a razão dessa inversão de instalação? Porque o religioso (bispo) escolhido para Estância renunciou a sua sagração episcopal faltando poucos dias para a posse e outro Bispo foi nomeado em janeiro do ano seguinte.
Até o momento três Bispos já passaram por Estância. Seguindo a cronologia dos governos ou pastoreios episcopais da Diocese, o primeiro Bispo de Estância foi Dom José Bezerra Coutinho que tomou posse em 14 de abril de 1961 (data da instalação) exercendo seu episcopado até 1986. O segundo Bispo foi Dom Hildebrando Mendes Costa que tomou posse em 14 de maio de 1986 e ficou até 2003. O terceiro Bispo foi Dom Marco Eugênio de Galrão Leite de Almeida que tomou posse em 22 de agosto de 2003 e ficou até 2013. O Bispo atual é Dom Giovanni Crippa, que tomou posse em 24 d e agosto de 2014, só que antes tinha ficado como administrador até ser nomeado pelo Papa. A Diocese conta com uma população aproximadamente de 600 mil habitantes e é formada por vinte e sete paróquias que estão instaladas em 16 municípios em uma área territorial de 6.736 km².
A criação da Diocese de Estância foi um marco histórico para Estância e para a região sul do Estado, tanto nos campos: religioso; vieram mais sacerdotes, um despertar para as vocações sacerdotais, o povo aprofundou mais a fé, surgiram novos movimentos e pastorais, os jovens se organizaram em grupos, em maio de 1962, surgiu a URJE (União Redentora da Juventude Estanciana) que serviu de incentivo para os jovens de outras paróquias; social; no início da década de 1960 em Estância só tinha um Sindicato do operariado do setor têxtil e uma Associação Comercial controlada pela elite local, com isso o homem do campo descobriu a necessidade de ter um órgão para defender a classe, em 05 de setembro de 1962 foi fundado o Sindicato Rural da Estância que serviu de incentivo para o homem do campo de toda região; econômico; em 19 de dezembro de 1968, foi criada a COPAME (Cooperativa Agrícola Mista de Estância) que facilitou o escoamento da produção agrícola de vários municípios da Região Sul e incentivou a fundação de várias colônias agrícolas na região; educacional; no caso particular de Estância, só existiam dois cursos em nível médio, um para o magistério (só para o sexo feminino) e o de técnico em contabilidade (para ambos os sexos), nesse contexto é fundado o Instituto Diocesano com o curso científico que muito auxiliou os jovens que desejavam ingressar na Universidade.
A faculdade de criar dioceses é exclusiva do Papa, porém, para que esse ato aconteça existem trabalhos de pesquisas ou estudos para observar a necessidade real do surgimento de uma nova Igreja particular (diocese) para melhor atender espiritualmente uma região. Esse levantamento, deve comprovar razões pastorais e o crescimento demográfico a fim de que o pastoreio do povo de Deus seja mais eficaz com a presença de um Bispo. No caso particular de Estância, no final dos anos cinquenta aconteceram várias reuniões com a comunidade eclesial, inclusive com a presença do Bispo de Aracaju, Dom Vicente Távora. O Padre José Paes de Santiago, vigário da época, liderou o movimento pró criação da Diocese que envolveu vários setores da sociedade estanciana, inclusive f oram rea lizadas várias campanhas para aquisição de uma residência episcopal e aquisição de outros itens necessários para uma sede episcopal. Depois de muito trabalho e a comprovação da viabilidade pastoral, econômica e social, a comunidade estanciana foi premiada com a criação da Diocese de Estância.
Finalmente depois de sessenta anos, não devemos esquecer de parabenizar todos aqueles que contribuíram direto e indiretamente com a criação da Diocese de Estância.
* J. Cruz, historiador – Estância /SE