Diplomacia às avessas
Publicado em 20 de janeiro de 2021
Por Jornal Do Dia
As doses da vacina contra o Covid-19 a disposição dos brasileiros não são suficientes nem para os profissionais na linha de frente do combate ao vírus, mas isso não é fruto do acaso, nem da demanda extraordinária gerada pela pandemia ainda em curso. Trata-se de consequência direta da política externa adotada pelo governo Bolsonaro.
Na contramão da tradição nacional, o governo de turno em Brasília decidiu afrontar alguns de seus principais parceiros comerciais, a fim de abanar a cauda para o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, feito um cachorro vira latas. O discurso oficial era de alinhamento automático com a nação americana. Na prática, a postura resultou em prejuízos de todas as ordens, inclusive econômico e sanitário.
Ontem, em momento raro de autocrítica, o Itamaraty admitiu as falhas no relacionamento com Índia e China. O surto de bom senso não acometeu o ministro Ernesto Araújo, de Relações Exteriores. Mas já é consenso entre diplomatas brasileiros que a guinada recente, desde quando Bolsonaro assumiu o governo federal, carece, justamente, da tal diplomacia.
Por ora, há dificuldade na aquisição de doses e insumos necessários para a produção da vacina em território brasileiro. Mas o ministro Ernesto Araújo já perdeu diversas oportunidades de se abster e evitar atritos com autoridades de outros países. Chegou a ponto de responsabilizar a China pelo Covid-19, atribuindo a alcunha de "vírus chinês" ao agente da emergência mundial.
Sob o comando de Ernesto Araújo, a política externa brasileira está em perfeita sintonia com o governo Bolsonaro. Motivo de sobra para preocupação. A questão ambiental, por exemplo, tratada com desdém, trava acordos comerciais com a Europa e tende a motivar sanções por parte dos Estados Unidos durante o governo Joe Biden. Poderia ser só uma ironia do destino, mas tem a feição completa de um desastre.