Disparada de casos faz empresários evitaremconfronto com governo
Publicado em 10 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
A cruzada promovida por setores do em presariado sergipano contra as medidas de isolamento social baixadas pelo governo do estado para retardar a propagação do coronavírus sofreu nesta semana uma fortíssima ducha de água fria. Ela veio através de uma alta fulminante no número de casos da doença, principalmente na capital. No sábado passado, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) fechava seu balanço epidemiológico com 601 casos confirmados, 48 internações e 14 mortes decorrentes do coronavírus. Em uma semana, esses números pularam para 1.438 casos confirmados, 82 internações e 28 mortes, conforme o balanço divulgado na última sexta-feira. Tal escalada forçou o governador Belivaldo Chagas e o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira a prorrogarem o isolamento social até o dia 18 de maio, mantendo apenas a abertura dos serviços e setores considerados essenciais.
E isso veio acompanhado de um estudo divulgado pelo Laboratório de Patologia Investigativa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que prevê até oito dias para o esgotamento de todos os leitos hospitalares disponíveis para casos de coronavírus, o que pode acontecer se a taxa diária de crescimento dos casos se manter acima de 15%. Atualmente, as redes pública e privada de saúde em Sergipe têm 232 leitos exclusivos de enfermaria e outros 100 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Desse total, já estão ocupadas 44 vagas em enfermarias e outras 38 nas UTIs. Só na rede pública, que atende a cerca de 80% da população do Estado, a taxa de ocupação de leitos está em 52,2% para as UTIs e 19,5% para as enfermarias.
Por conta disso, as entidades que representam o setor produtivo adotaram uma cautela maior nas cobranças ao governo por um plano mais consistente de retomada da economia. O JORNAL DO DIA apurou que os representantes da classe estão preparando uma carta de compromisso que será apresentada a Belivaldo, pedindo a elaboração de um plano oficial nesse sentido e se comprometendo a reforçar os seus protocolos de prevenção. Três fontes consultadas pela reportagem confirmaram a preparação deste documento, mas evitaram dar mais detalhes, porque preferem evitar a criação de um confronto com as autoridades, irritações entre os profissionais de saúde, ou mesmo uma má impressão à grande parte da opinião pública que tem procurado respeitar a quarentena.
Os empresários ainda têm queixas quanto à diminuição da atividade econômica e de dificuldades para a manutenção dos empregos, alegando que estão tendo que demitir funcionários por causa da demora na definição de reabertura das lojas. Dizem ainda que mais de 70 mil pessoas estão desempregadas em Aracaju, incluindo os autônomos que foram forçados a parar de trabalhar. E que isso é uma consequência da suspensão das atividades. No entanto, diante dos últimos balanços e da prorrogação da emergência, os empresários procuraram reduzir o tom e a intensidade das cobranças.
Na quinta-feira, a Fecomércio (Federação do Comércio de Sergipe) promoveu uma videoconferência com o médico, ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que combate o isolamento socialdiariamente nas suas redes sociais. Enquanto Terra classificava a estratégia de quarentena como "errada" e "inútil", chegando a sugerir que Sergipe aplique testes em massa de detecção do coronavírus, com apoio da iniciativa privada, o presidente da Fecomércio, Laércio Oliveira, endossou a sugestão, mas adotou um tom mais ameno, falando em responsabilidade mútua. "O Governo precisa chamar a iniciativa privada e as associações para buscar parcerias e para distribuir com todos esses organismos a responsabilidade. Se o Governo abrir o shopping, há uma corresponsabilidade para adoção de medidas para o funcionamento, por exemplo", afirmou, em declaração publicada pela Agência Comércio.
Já na sexta-feira, durante uma entrevista à rádio CBN, ao ser perguntado em sobre o que achava da prorrogação do isolamento, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Aracaju (CDL), Breno Barreto, não quis fazer um juízo de valor e pediu expressamente a todos que cumpram o que está no decreto. "Como as instituições já estão há cerca de 40 dias se reunindo para discutir e levar sugestões para tentar algumas soluções, o que ficou acordado foi que ninguém saísse com notas ou sugestões sobre o que acha ou deixa de achar. A minha orientação foi para que levantássemos dados técnicos, embasados em estudos, para sugerirmosao governo algumas condicionantes que corroborem com a maneira mais correta [de reabrir as atividades] para que se dê [os serviços] à sociedade. A gente tem que respeitar a orientação dos governos e entender que o que se está preservando é a vida", disse Breno.
Belivaldo Chagas, por sua vez, não tem se negado a conversar com os empresários e até permitiu que um representante das entidades tomasse assento no gabinete de crise criado para acompanhar as ações de combate aos desdobramentos da pandemia, mas deixou muito claro que a palavra final será das autoridades de saúde e dos pesquisadores que estudam o assunto – as quais, por unanimidade, recomendam expressamente o endurecimento do isolamento social. "Estamos num momento que não podemos flexibilizar. Isto não depende da vontade do governador, mas da dinâmica de crescimento da pandemia. Precisamos manter as estratégias de enfrentamento dessa doença e a população também tem que fazer a parte dela", enfatizou.