Sábado, 30 De Novembro De 2024
       
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Dona Eliene, presente!


Publicado em 04 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Alfabetos e amanhãs (Divulgação).

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Penso na cabeça branca de minha mãe, uma senhora de 73 anos, inteligente, lúcida. Antes de o inverno lavar a cor de seus cabelos, tantos janeiros, coube a ela plantar as primeiras letras, comunicar a dignidade da palavra escrita para meninos e meninas famintos de esperança – falo de pão e de saber, também.
A professora Eliene dedicou os melhores anos de sua vida, quando a própria juventude inspira coragem, à alfabetização dos filhos de trabalhadores pobres, crianças que iam à escola atraídos pela merenda, a fim de encher o bucho com bolacha e suco Tang. Ano após ano, a minha mãe repetiu o ABC, sem admitir derrota. Ano após ano, ela cumpriu o seu trabalho e municiou gerações inteiras para perseguir o futuro.
Minha mãe passou a maior parte de sua vida entre quatro paredes, em uma sala de aula. Até se aposentar. Ela não merecia, no outono da vida, ser assaltada por Belivaldo Chagas.
Assaltada, sim. Eufemismos de ordem burocrática, o rito corrompido no exercício do poder, não alteram a natureza dos fatos. Entre abril de 2020 e junho de 2022, o então governador Belivaldo Chagas passou a mão grande no dinheiro dos aposentados. O confisco de 14% dos vencimentos dos velhinhos não tinha precedentes, jamais contou com previsão legal. Ainda assim, foi autorizado pelos deputados estaduais, sem maior dificuldade.
Belivaldo tomou o dinheiro pouco dos aposentados e nunca o devolveu. O seu sucessor, o governador Fabio Mitidieri, por sua vez, faz de conta que o governo do estado não lhes deve nada. Cínico e autoritário, ele agora se recusa a dialogar com o sindicato que representa os professores da rede estadual, a fim de ouvir a justa reivindicação da categoria.
Circula nas redes sociais um vídeo escandaloso. O governador, microfone em punho, se dirige aos professores representados pelo Sintese aos berros, com deboche e arrogância. Afirma trabalhar diariamente para entregar novas escolas, enquanto os profissionais do magistério correm atrás de dinheiro.
A inversão de valores é flagrante. A minha mãe não merecia ser assaltada por Belivaldo Chagas, anos a fio. Professora polivalente, aposentada após ensinar as primeiras letras a estudantes desnutridos de alfabetos e amanhãs, ela também não merece a empáfia truculenta de Fabio Mitidieri.
Há quem perca o próprio tempo e exija um pedido de desculpas ao  governador. Eu não. Filho de professora, conto os dias até domingo, ansioso para depositar uma resposta na urna.
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