Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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É tudo verdade…


Publicado em 16 de abril de 2021
Por Jornal Do Dia


Às vésperas do impeachment

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Pouca gente escapou 
à voragem contida 
no documentário mais recente de Petra Costa.  ‘Democracia em vertigem’ (2019) é um filme controverso, para dizer o mínimo. Resguardada pela narração em primeira pessoa, a diretora omite, falseia e endossa a narrativa do "golpe" entoada pelo petismo sem fazer nenhuma ressalva. Apesar de todos os problemas evidentes, contudo, o longa metragem cutuca feridas abertas. E, assim, incomoda. 
Algo parecido deve ocorrer com ‘Alvorada’ (2020), exibido há poucos dias no festival É tudo verdade. Em termos formais, o filme dirigido por Anna Muylaert e Lô Politi é um documentário clássico. Os diretores pouco se pronunciam de modo explícito. Não dá para afirmar de forma categórica, por exemplo, a que corrente de opinião eles fazem coro, a montagem não advoga a favor ou contra o processo de impeachment sofrido pela presidente Dilma Rousseff. Ao invés de bradar palavras de ordem, ‘Alvorada’ se atém à atmosfera rarefeita dos Palácios e articula um discurso repleto de significados através de personagens menores, quase invisíveis, conformados ao ambiente.
O filme inicia aos berros, com o voto favorável ao impeachment proferido pelo então deputado Jair Bolsonaro, como a sugerir aonde a sucessão de eventos vai dar. Favas contadas, no entanto, a emergência do bolsonarismo não passa aqui de um lamentável dado histórico. A solidão do poder é o verdadeiro objeto de ‘Alvorada’. E a trilha com peças melancólicas de Villa Lobos o realça.
Este não é um filme sobre os bastidores de Brasília, longe disso. Não há entrevistas, depoimentos, nem as explicações de praxe. Há, sim, uma narrativa em disputa. E, ainda mais importante, a percepção de como os dados lançados pelos poderosos é completamente ignorada pelo grosso das gentes. Copeiros, zeladores, jardineiros, motoristas, a arraia miúda do funcionalismo, em suma, certamente têm opiniões. Mas estas não reverberam, não fazem diferença, não são pronunciadas, nunca.
Na passagem mais reveladora de ‘Alvorada’, com o impeachment já consumado, um grupo de faxineiras jovens pousa para foto na cadeira usurpada à presidente. O projeto de poder mais inclusivo já esboçado neste País acabara de ser derrotado por meio de uma manobra política escusa. Elas estão alegres, contudo. A julgar pelos sorrisos, não perderam nada, não há identificação com a presidente deposta. Rei morto, rei posto.

Rian Santos

Pouca gente escapou  à voragem contida  no documentário mais recente de Petra Costa.  ‘Democracia em vertigem’ (2019) é um filme controverso, para dizer o mínimo. Resguardada pela narração em primeira pessoa, a diretora omite, falseia e endossa a narrativa do "golpe" entoada pelo petismo sem fazer nenhuma ressalva. Apesar de todos os problemas evidentes, contudo, o longa metragem cutuca feridas abertas. E, assim, incomoda. 
Algo parecido deve ocorrer com ‘Alvorada’ (2020), exibido há poucos dias no festival É tudo verdade. Em termos formais, o filme dirigido por Anna Muylaert e Lô Politi é um documentário clássico. Os diretores pouco se pronunciam de modo explícito. Não dá para afirmar de forma categórica, por exemplo, a que corrente de opinião eles fazem coro, a montagem não advoga a favor ou contra o processo de impeachment sofrido pela presidente Dilma Rousseff. Ao invés de bradar palavras de ordem, ‘Alvorada’ se atém à atmosfera rarefeita dos Palácios e articula um discurso repleto de significados através de personagens menores, quase invisíveis, conformados ao ambiente.
O filme inicia aos berros, com o voto favorável ao impeachment proferido pelo então deputado Jair Bolsonaro, como a sugerir aonde a sucessão de eventos vai dar. Favas contadas, no entanto, a emergência do bolsonarismo não passa aqui de um lamentável dado histórico. A solidão do poder é o verdadeiro objeto de ‘Alvorada’. E a trilha com peças melancólicas de Villa Lobos o realça.
Este não é um filme sobre os bastidores de Brasília, longe disso. Não há entrevistas, depoimentos, nem as explicações de praxe. Há, sim, uma narrativa em disputa. E, ainda mais importante, a percepção de como os dados lançados pelos poderosos é completamente ignorada pelo grosso das gentes. Copeiros, zeladores, jardineiros, motoristas, a arraia miúda do funcionalismo, em suma, certamente têm opiniões. Mas estas não reverberam, não fazem diferença, não são pronunciadas, nunca.
Na passagem mais reveladora de ‘Alvorada’, com o impeachment já consumado, um grupo de faxineiras jovens pousa para foto na cadeira usurpada à presidente. O projeto de poder mais inclusivo já esboçado neste País acabara de ser derrotado por meio de uma manobra política escusa. Elas estão alegres, contudo. A julgar pelos sorrisos, não perderam nada, não há identificação com a presidente deposta. Rei morto, rei posto.

 

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