O "Velho Mercado" fará parte da exposição Fragmentos da Cidade, de Adauto Machado
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Economia e pandemia
Publicado em 28 de março de 2020
Por Jornal Do Dia
O governador Belivaldo Chagas co meçou 2020 esbanjando otimismo, com projetos ousados voltados para a recuperação econômica do estado, alvo de grave crise desde 2014. Na mensagem à Assembleia Legislativa, em fevereiro, foi enfático: "Sergipe resistiu, Sergipe revigorou-se por entendermos, todos, que a capitulação ao pessimismo seria a antecipação da derrota. Embora fossem cinzentas as nossas perspectivas, o governo, o empresariado, os trabalhadores, o universo político, as instituições sergipanas, uniram-se em torno do mesmo propósito e, com esperança e determinação, buscamos encontrar, entre as nuvens pesadas, alguns espaços de claridade que tornaram menos difícil a nossa jornada comum, e fomos vencendo dia a dia os obstáculos que iam surgindo".
Quando começou a dar ordem de execução a projetos que poderiam mesmo melhorar a vida dos sergipanos, veio a crise do coronavírus, que está comprometendo todo o esforço de contenção feito no primeiro ano de administração. Agora os recursos são direcionados para salvar vidas.
Mesmo nesse quadro difícil o governador manteve a sobriedade e marcha em sintonia com os seus colegas do Nordeste e da maioria dos estados brasileiros, contra a ação criminosa do presidente Jair Bolsonaro. Na sexta-feira, durante videoconferência com os governadores do Nordeste, Belivaldo reafirmou sua posição a favor da ciência. Em suas redes sociais afirmou: "Respeitando as recomendações da OMS, nós, governadores dos Estados do Nordeste, continuaremos seguindo o caminho do cuidado e da responsabilidade com a vida da população. O Coronavírus continua matando milhares de pessoas pelo mundo. A doença não seleciona cor, raça, gênero, nível social, físico e muito menos idade. Não podemos tomar medidas que expõem as pessoas a aglomerações e, assim, propagar a contaminação. Todos nós devemos fazer a nossa parte. É seguindo as medidas de prevenção e tendo a compreensão necessária, que contornaremos este desafio".
E subscreveu a carta, assinada por todos os governadores nordestinos, mantendo a quarentena e todas as medidas de isolamento social adotadas até agora. A íntegra da carta é a seguinte:
"Nós, governadores do Nordeste, em videoconferência realizada neste dia 27 de março, assim nos manifestamos:
1) Com bom senso e equilíbrio, vamos continuar orientados pela ciência e pela experiência mundial, para nortear todas as medidas, diariamente avaliadas, nesta guerra travada contra o Coronavírus. Reiteramos que parâmetros científicos indicam as ações preventivas e protetivas, de intensidade gradual e estágios progressivos ou regressivos, adequando-as sempre à realidade de cada região de nossos Estados;
2) Na ausência de efetiva coordenação nacional, que deveria ser assumida pelo Governo Federal, em articulação com os demais entes federativos, buscaremos avançar na integração regional e com as demais regiões, mobilizados pelo objetivo de salvar vidas e amenizar os impactos negativos sobre a economia dos estados. Acreditamos também que o Congresso Nacional tem papel decisivo no atual momento da vida brasileira;
3) Dispostos a fortalecer o embasamento de cada uma das nossas medidas, já construído sobre as bases apresentadas pela OMS, solicitaremos um pronunciamento oficial do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do acompanhamento e orientação do Ministério Público Federal e do Ministério Público dos Estados;
4) Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do Governo Federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS – que indicam o isolamento social como melhor forma de conter o avanço do Coronavírus -, e promove campanha de comunicação no sentido contrário, estimulando, inclusive, carreatas por todo o país contra a quarentena. Este tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida;
5) De nossa parte, exigimos respeito por parte da Presidência da República, esperando que cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores, assumindo-se um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas. A omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública. Assim agindo, expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica;
6) Enfatizamos que sempre estaremos abertos ao diálogo, neste esforço que precisa ser coletivo, tendo como meta a superação da ameaça representada por esta doença, que continua matando milhares de pessoas. Temos absoluta convicção de que o diálogo, o equilíbrio e a união serão sempre o melhor caminho para revertermos este quadro crítico. Seguimos firmes e vigilantes em defesa da vida das pessoas, inclusive na luta para impedir atos que possam significar riscos à saúde pública."
Belivaldo fez a opção pela responsabilidade, sem a sabujice de alguns antecessores.
Eleições municipais
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se posicionou mais uma vez contrário ao adiamento ou à suspensão das eleições municipais deste ano em razão da crise do coronavírus. Na semana passada, o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, propôs uma postergação do pleito de outubro.
Maia afirmou que não há previsão constitucional para a mudança no pleito e que isso abriria um precedente perigoso no futuro caso um presidente da República queira prorrogar o seu mandato. As declarações foram feitas em evento do fórum de empresários Lide nesta sexta-feira (27).
"No futuro, um presidente que tenha um comando forte poderia criar uma crise e prorrogar o seu mandato, isso não é uma questão simples, não é uma questão que se resolva fácil", afirmou.
"Vamos cuidar dos dois próximos meses, garantir a previsibilidade, montar um planejamento para o setor produtivo voltar a produzir. Depois desses dois meses, espero, vai se liberando a sociedade e passamos a ter condições de realizar as eleições. Não podemos tratar de prorrogação de mandato: a população vota por quatro anos e não por seis. Isso precisa ser respeitado", disse Rodrigo Maia.
Exemplo de Trajano
A empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, se contrapôs ao discurso de parte do empresariado que defende o fim da quarentena e clamou para que, neste momento difícil, os empresários "não demitam".
"É um momento difícil que a gente nunca passou. Mas acredito no nosso poder de se reinventar e é um momento que o pânico não nos deixa ver as coisas que estão sendo anunciadas pelo próprio governo para que a gente possa economicamente sair do sufoco. Estou pedindo aos empresários se acalmarem, darem férias e não provocarem desemprego", defendeu a empresária em entrevista à repórter Monica Scaramuzzo, de "O Estado de S. Paulo".
Luiza Trajano enfatiza que "proteger a vida é mais importante", mas podenra que "a economia também é importante porque ajuda a combater o desemprego".
"O que tenho falado [aos empresários] é que o confinamento é uma realidade", reafirma a empresária, que cobra do governo Jair Bolsonaro que apresente uma "previsibilidade" sobre o fechamento do mercado.
A empresária frisa que, nas lojas que não haviam sido fechadas, os clientes "exigiam" o fechamento. "Teve mãe de funcionário pedindo para fechar (a loja). Já tinha um pânico grande. As pessoas estão com medo de se encontrar."
Trajano disse ainda que os pequenos e médios empresários a têm procurado para conversar preocupados com os impactos econômicos e com as políticas desencontradas do governo.
"Tenho dito que o pânico está tão grande que eles não estão conseguindo ver as medidas que o governo está tomando. Eles estão com medo de quebrar, e com razão. É preciso comunicar bem porque o desemprego por desespero será muito grande".
Campanhaé proibida
Por determinação da Justiça Federal do Rio de Janeiro, o governo federal deve suspender a veiculação da campanha publicitária "O Brasil não pode parar", que defende o fim do isolamento social determinado por governadores de diversos estados.
A medida liminar atendeu ao pedido apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF) e em descumprimento, o governo deverá pagar multa de R$ 100 mil.
A juíza federal Laura Bastos Carvalho determinou que "a União se abstenha de veicular, por rádio, televisão, jornais, revistas, sites ou qualquer outro meio, físico ou digital, peças publicitárias relativas à campanha ‘O Brasil não pode parar’, ou qualquer outra que sugira à população brasileira comportamentos que não estejam estritamente embasados em diretrizes técnicas, emitidas pelo Ministério da Saúde, com fundamento em documentos públicos, de entidades científicas de notório reconhecimento no campo da epidemiologia e da saúde pública".
Novos médicos
O Campus da Universidade Federal de Sergipe em Lagarto antecipou a colação de grau de cerca de 40 estudantes de Medicina. Inicialmente programada para maio próximo, a formatura ocorreu agora visando oxigenar o sistema de saúde neste momento de combate ao Covid-19. Esses novos médicos já estão contratados por órgãos do sistema público de saúde.
O pró-reitor de Graduação da UFS, professor Dilton Maynard, afirmou que a antecipação da colação de grau integra o conjunto de ações das instituições de ensino superior no combate ao coronavírus. "As universidades públicas têm tido um papel essencial neste enfrentamento, com colaborações de diversas áreas de conhecimento", revela.
O chefe do departamento de Medicina do Campus Lagarto, professor João Carlos Queiroz, destaca que "a pandemia é um momento de grande impacto para quem trabalho na formação de futuros médicos. Agora, estamos planejando ofertar a carga horária teórica dos estágios de forma online", diz Queiroz.
As colações de grau foram feitas individualmente, já que as solenidades estão suspensas por conta da emergência na saúde pública. O professor Dilton Maynard lembra também que a antecipação é possível para alunos de diversos cursos com contratos de trabalho já em andamento, com prioridade para novos profissionais que trabalharão em órgãos públicos ou empresas privadas que estejam atuando no combate ao Covid-19.