Eis a Venezuela!

O governo de Nicolás Maduro cometeu toda sorte de crimes contra a humanidade – antes, durante e após as eleições de julho. Essa é a conclusão da missão criada pela ONU para investigar as violações de direitos humanos na Venezuela. Um informe com mais de 180 páginas aponta assassinatos, tortura, prisão e até violência sexual.

Assim, por vias tortas, entre sopapos e vilanias, a Venezuela emerge de novo no mapa do mundo.

Até outro dia, a ferida aberta ao sul do equador mereceu o cinismo de todos os brasileiros. Os alinhados à direita alertavam sobre os perigos de vida e morte do populismo. Os partidários da esquerda insistiam na aliança histórica com o chavismo, apontavam o dedo gordo para o imperialismo ianque. Alheia a uns e outros, a população venezuelana, vinte e oito milhões de pessoas, perdia peso, morria de fome.

Para todos os efeitos, com exceção de uma notícia aqui, outra ali, não havia mais Venezuela. Ninguém dizia uma palavra sobre os abusos cometidos pelo regime de Maduro. Tudo indicava, o País inteiro tinha afundado em petróleo.

A Venezuela era, então, um problema exclusivo dos venezuelanos, gente como o fotógrafo Cao Sanchez, sem outra alternativa além de encarar o fogo cruzado de peito aberto, as mãos erguidas entre o autoritarismo e a carência absoluta de recursos, as prateleiras vazias.

Em uma série de fotografias, Sanchez surpreende os venezuelanos abastados ostentando produtos importados: creme dental, detergente, café em pó.

Os cidadãos bem de vida, profissionais liberais com dinheiro no banco, recorriam a empresas transportadoras para encher as despensas, como se higiene fosse também era uma questão de classe.

Eis, de novo, a Venezuela, após sumir do mapa, emergindo num passe de mágica. Sobre o grande vazio cartográfico na cabeceira da América do Sul, sob o espanto de sua erupção, resta de novo a má consciência do mundo civilizado.