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EM CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU


Publicado em 21 de março de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Como mulher, me solidarizo com a advogada Bruna Holanda nesse momento de extrema dor e frustração,

além de compreensível decepção com a instituição da qual faz parte

 

* Vânia Azevedo

Justamente no mês em que se celebra o 8 de março – Dia Internacional da Mulher – lamentavelmente, nós, mulheres sergipanas, somos moralmente agredidas pelo descaso com que uma mulher, profissional do direito, conselheira da OAB – Sergipe, teve o estupro a que foi submetida por um colega, questionado de maneira desrespeitosa; e o que é pior, negando-lhe o devido acolhimento, quando colocado em dúvida aquilo que os fatos por si só não deixam dúvidas.
Além do seu papel constitucional de representação e defesa da sociedade civil, cumpre a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) “a representação e disciplina dos advogados em toda República Federativa do Brasil”, bem como o papel singular de defensores da Lei, da justiça, dos Direitos Humanos, da ética, etc. Porém quando fatos como esse, sabidamente reconhecido como crime contra a dignidade sexual, ocorrem e a punição não devida não se faz, a sensação de impunidade e desrespeito à mulher tende a ganhar proporção; pois, se uma mulher na condição de Conselheira dessa renomada instituição, viu a sua denúncia questionada sob alegação de haver colaborado para que o fato ocorresse, o que diriam de outras mulheres que não gozassem da sua posição e visibilidade. O fato só contribui para alimentar as estatísticas, já densas, a respeito de casos de estupro e outros tipos de violência que a mulher sofre. Ser questionada sobre a veracidade do fato já se constitui uma violência que a mulher precisa lidar, quando a culpabilização da vítima é muitas vezes questionada em momento de extrema fragilidade, especificamente se o caso for tratado por homens.
Ser submetida a um caso de estupro é uma das condições mais humilhantes pela qual a mulher pode passar, pois o fato em si já demonstra a condição de poder que o homem, imbuído de caráter autoritário e machista, subjuga a sua vítima com o propósito de satisfazer os seus instintos e a sua necessidade de poder. Estar sob efeito de álcool ou não, definitivamente não altera a sua motivação, que podem ser multifatoriais: desde sadismo, raiva do sexo feminino, até mesmo desejo de poder – geralmente o mais comum.
A rigor, ainda se faz urgente uma mudança de valores para que fatos como esse, com claros vestígios da abominável cultura patriarcal, não venham a fortalecer o discurso machista que por décadas vem fazendo suas vítimas.
Como mulher, me solidarizo com a advogada Bruna Holanda nesse momento de extrema dor e frustração, além de compreensível decepção com a instituição da qual faz parte; certa de que as mulheres sergipanas, nesse momento, se coadunam com a sua dor e indignação.

* Vânia Azevedo é professora

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