Terça, 03 De Dezembro De 2024
       
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Em dia útil


Publicado em 24 de abril de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Amigo dos livros (Divulgação)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
 
Ler menos, trabalhar mais. O conselho do presidente Lula para Fernando Haddad não passou de pilhéria, claro. Ainda assim, ofendeu os meus brios de leitor convicto. 
Cá entre nós, eu não trabalho pouco. Não é raro, contudo, um transeunte sem rumo, perdido nos caminhos de barro da zona rural onde resido, me surpreender com um livro aberto, à sombra de uma árvore. O mato em volta, ararinhas e saguis, não contam os dias em folha de calendário. Inspirado por eles, leio os poemas de Yeats em pleno dia útil.
Vira e mexe, um invejoso sem tempo a perder no fundo dos bolsos bem forrados tenta nos convencer do acerto de dicotomias flagrantemente mentirosas. O ex-presidente Bolsonaro gostava de alertar, com o ar paternalista de um aproveitador rematado, sobre uma escolha supostamente difícil: os trabalhadores teriam de optar entre direitos consagrados ou oportunidades de emprego. Agora, Lula recorre a um confronto descabido entre ócio e produtividade.
Esconjuro! Bolsonaro era um ignorante, um homem chucro! Lula, ao contrário, desfrutou da amizade de Domenico De Masi. Quando o presidente esteve preso, em Curitiba, uma arbitrariedade, o sociólogo italiano fez questão de o visitar no cárcere.
De Masi, o leitor desta página certamente já ligou o nome à pessoa, foi justamente quem primeiro atentou para as virtudes do tempo jogado fora em proveito da criatividade. A sua contribuição para o desenvolvimento humano foi tamanha, a ponto de o próprio Lula lamentar a sua morte.
“Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário”, escreveu o presidente, naquele dia triste.
Estou com Lula e não abro. Não o padeiro sem tato. Mas o amigo de escritores e dos livros. Sei feliz quem abre um volume ao acaso, para o próprio deleite, como se diz de seu ministro da economia. As máquinas, os algoritmos, os cérebros eletrônicos, estes sim, podem trabalhar sem parar. 
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