Na paisagem árida de uma cidade madrasta (Brasil Filmes)
Embaixo do sol a pino
Publicado em 19 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Foi-se embora, sem nenhuma cerimônia, Tupã da Viola, indigno de cortejos, desconhecido das autoridades, sem choro nem vela. Os mais sensíveis talvez ainda dêem por sua falta ao tropeçar com as vistas pela Avenida Hermes Fontes, um dos pedaços mais cinzas de Aracaju. Pois mais do que a música inaudita, derramada sobre a lata quente dos automóveis, comunicava a sua presença – carne e osso, mais a disposição de uma trincheira aberta às portas de casa, na paisagem árida de uma cidade madrasta.
Aracaju está carente de tipos urbanos. No centrão, assim como nas beiradas, a fisionomia é sempre a mesma, mais ou menos igual. A velha do Shopping teve um fim trágico, pouco antes de ser eternizada num filme de Gabriela Caldas. Tupã da Viola, nem isso. Poucos prestaram atenção no doido empunhando um violão, contra cimento e tráfego, embaixo do sol a pino. Artista popular de verdade só conhece a fama de nome. Agapito que se cuide.
Tateamos ainda, apesar de todos os esforços, à procura das próprias feições. Talvez por isso, uma campanha publicitária realizada sob o pretexto de celebrar a emancipação política da capital sergipana, há alguns anos, tenha emocionado tantos. ‘Bate coração’ (2012), da Brasil Filmes, estrelada pela tímida constelação da música Serigy, se consagrou a peça de maior recall na história da publicidade local. É também o único registro em áudio e som de Tupã da Viola digno de nota e divulgado a contento.
Foi-se um compositor popular, dessa pra melhor, sem deixar legado em forma de documento. Nem um verso na boca do povo. Nada. Um artista da presença, quase um performer, que se nota agora, quando se nota, exclusivamente pela lembrança apagada de uma imagem que sequer é memória para a maioria de sua gente.
Desta para melhor, sem choro nem vela, sem volta. Hoje, no entanto, sob o pretexto de uma tal Semana da Sergipanidade, eu o lembro.