Enem sabotado

Escolas fechadas e aulas suspensas não foram  suficientes para o governo federal revisar o ca- lendário do Exame Nacional do Ensino Médio. Argumentos para adiar a realização da prova não faltam, os mais razoáveis. Segunda-feira, no entanto, faça chuva ou faça sol, em plena pandemia, as inscrições serão abertas.
A falta de sensibilidade social do time de turno no primeiro escalão da República não é novidade para ninguém. O ministro Weintraub, da Educação, por exemplo, já afirmou que o Enem não existe para corrigir injustiças, entre outras declarações controversas. A disparidade competitiva entre alunos das redes pública e particular de ensino, contudo, deve ser acentuada pelo coronavírus.
Nas escolas particulares, as aulas presenciais foram substituídas pelo ensino à distância. Bem ou mal, o programa didático será cumprido, com o auxílio da tecnologia. Os estudantes matriculados em colégios públicos, por outro lado, muitas vezes não dispõem nem de conexão com a internet.
Um dos alvos preferidos de Bolsonaro, o Exame Nacional de Ensino Médio promoveu uma verdadeira revolução no acesso ao ensino de terceiro grau. O exame, acusado de servir como um instrumento de doutrinação ideológica ao fabricar "militantes", é reconhecido por todos os especialistas como um verdadeiro marco. Com a sua aplicação, a decoreba do exame vestibular deu lugar ao pensamento crítico e o raciocínio lógico. Talvez por isso tenha agora o seu princípio democrático sabotado.