Domingo, 13 De Abril De 2025
       
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Entre Cajus e Caranguejos


Publicado em 25 de março de 2025
Por Jornal Do Dia Se


* Marcos A. Franco

Vivi momentos alegres. Conheci a terra do caju, a capital de Sergipe, o menor estado da federação brasileira em extensão territorial, mas imenso pela recepção e acolhida do povo amigo dos caranguejos. O nome Aracaju não nega as origens indígenas e carrega a coragem de Cristóvão de Barros, grande líder em diversas batalhas contra a anexação de Sergipe à Capitânia da Bahia de Todos os Santos, no século XVI.
Dentro de um Uber, a caminho do centenário Mercado Municipal, que leva o nome de três personagens ilustres, sendo dois deles idênticos ao meu sobrenome, o motorista me surpreendeu. Além de sua habilidade ao volante, era um guia turístico por vocação.
Protegido pelo ar-condicionado do calor do vigoroso sol nordestino, dentro de um confortável veículo, o meu guia, orgulhoso de sua cidade, descrevia e apontava o cuidado com a preservação dos manguezais ao longo do rio Sergipe, que deságua no oceano.
Saindo da praia de Atalaia, onde se encontra a instagramável e imponente escultura de um caranguejo, percorri ruas planas de uma cidade ampla e bem cuidada. No trajeto, vi prédios luxuosos até avistar grandes esculturas à beira do rio Sergipe, em frente ao Museu da Gente Sergipana. As esculturas, com sete metros de altura, representam figuras da terra. O museu interativo abriga objetos antigos e atuais, palavras e expressões regionais, além de filmes sobre o povo sergipano.
Enquanto o semáforo não abria, o guia desinibido, respondia algumas perguntas. Sobre a segurança foi bem direto:

– Aqui o cabra só assalta uma vez, na reincidência, leva bala.
Quase chegando ao destino, o motorista nos recomendou retornar para os festejos de São João. A festa dura um mês.
No dia seguinte, convidado para uma reunião social em uma chácara, quase dentro da cidade, pude saborear um tambaqui na brasa, pescado na hora no lago da propriedade. Cercado por patos, galinha d´angola, pavões e cachorro, abrigados por um grande pomar, notei um coelho preto, morador da chácara, que me observava com as orelhas em riste, expressão interrogativa, tentando entender a nossa “invasão” ao seu paraíso. Contemplei um pôr-do-sol invejável, disputado por inúmeras árvores e refletido nas águas do lago, testemunha da receptividade ímpar do casal que abriu seus portões para convidados forasteiros.
Comprovando as diferenças culturais, ao solicitar uma omelete à atendente do café do hotel, ela, percebendo minha origem paulista perguntou:
– O senhor está com pressa? O serviço está lento. A mesma lerdeza de sempre.
Saboreei todo o típico café com mais calma.
Andando pela avenida da praia em busca de um açaí cremoso, deparei-me com uma vendedora ambulante preparando uma carne desfiada em uma chapa enquanto dançava ao som de uma música. Eu a provoquei:
– Você está fazendo duas coisas que eu não sei: dançar e cozinhar.
Ela sorriu e, demonstrando orgulho e felicidade, completou:
– Eu também sei costurar.
A simplicidade e alegria das pessoas eram evidentes. A maioria, conversava entre si, com poucos celulares nas mãos, competindo com sons das músicas dos bares da praia.
Impressionou-me saber da história dos navios torpedeados na costa sergipana durante a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 600 pessoas naufragadas morreram, e a tragédia deu nome à Praia dos Náufragos.
Caju, caranguejo, guaiamum, aratu e a caipirinha de Seriguela ficarão marcadas em minha memória gastronômica. Entretanto, o sorriso, a simpatia e a acolhida do povo aracajuano ganharam o meu coração.
Retornei convicto de que o cidadão da terra do caju vive feliz e tem um carinho especial por sua cidade. Eles gostam de zueira, mas não de treta, eles gostam de trocar ideias, mas não de empatar.

 

* Marcos A. Franco, tesoureiro da Academia Santista de Letras

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