Afronta inútil (Divulgação)
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Eu e os barcos
Publicado em 07 de janeiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A meu próprio modo, sou um homem inútil. Quando piso fundo e conduzo o carro sobre a ponte Zé Peixe, entre Aracaju e a Barra dos Coqueiros, outra margem, no rastro dos amigos, naufrago no rangido vagaroso dos barcos tototó. Vamos e voltamos, eu e os barcos, um dia depois do outro, navegar sempre lento, uma afronta sem peso de consequência à velocidade sem freios do tempo presente.
Confundo os ponteiros do relógio em inesperadas travessias. As páginas dos jornais advertem sobre um ano novo, 2025, cravado por marcos históricos incontornáveis, como este de a capital sergipana ser comandada por uma prefeita, finalmente. Nas ruas da Atalaia, entretanto, o amontoado de lixo às portas das casas me convence de viver de novo em dias de triste memória, um passado nem tão distante assim.
Eu me lembro. Prefeito em segundo mandato, depois de governar Sergipe três vezes, João Alves Filho largou Aracaju aos ratos. Refiro-me ao lixo nas ruas e também à roubalheira. Segundo José Carlos Machado, vice do negão, os auxiliares diretos de JAF só cuidavam de passar a mão grande nos recursos do município.
Prefeita em início de mandato, Emília Corrêa menciona agora um rombo milionário, em vias de inviabilizar a administração municipal. Eu estranho muito. Órgãos de controle plenos de poderes não apontaram uma vírgula, exceção feita à tumultuada licitação do transporte coletivo de passageiros na grande Aracaju. Emília, no entanto, menciona uma tal Caixa Preta – como faz, aliás, desde o início da campanha eleitoral.
Falta incontestável, comete a prefeita Emília, ao discursar em palanque extemporâneo. O primeiro ato de sua gestão fala alto. Ela plantou 30 mudas de árvores no Parque da Sementeira, para entusiasmo do amigo Antônio Samarone, secretário de Cultura em Itabaiana, capital do agreste sergipano, satisfeito com a sombra pouca do gesto “simbólico”.
Peço perdão pelo trocadilho, mas trinta mudas não mudam nada. Igual a um automóvel que solta fumaça pelo escapamento enquanto o motorista sonha com o idílio flutuante de um barquinho desgarrado de pressa, ao sabor de um rio.