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Exageros do senador


Publicado em 07 de janeiro de 2014
Por Jornal Do Dia


A contrariedade demonstrada publicamente pelo senador Antonio Carlos Valadares (PSB) em função da exoneração do economista Luciano Pimentel da superintendência estadual da Caixa Econômica Federal, é muita exagerada e soa mais como justificativa para os passos políticos que ele pretende adotar nos próximos dias. Desde quando o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, anunciou a sua candidatura a presidente da República, rompendo a aliança com o PT e a presidente Dilma Rousseff, o senador sergipano ficou em situação desconfortável dentro do partido.

Valadares foi voto vencido na reunião da executiva nacional do PSB em que foi definida a candidatura de Campos e o rompimento com o PT, mas ele continuou com a sua postura em defesa do governo e se recusou a entregar os cargos que ocupava nos governos federal e estadual, ao contrário do que ocorreu em outros Estados. O senador vinha sendo pressionado a assumir mais claramente a campanha de Campos e isso passaria por sua candidatura ao governo do Estado nas eleições deste ano, rompendo a aliança estadual criada a partir de 1994, da qual o ex-governador Marcelo Déda se transformou em principal avalista.

Luciano Pimentel havia, de fato, transformado a superintendência estadual da Caixa num comitê eleitoral. A sua agenda diária era extremamente política e o senador sabe muito bem disso, apesar de dizer que nunca Pimentel havia se manifestado claramente a respeito da candidatura a deputado estadual. O superintendente era um "arroz de festa" – o social faz parte do cargo, mas nunca foi tão praticado por ele quanto no ano passado – e usava claramente a sua função para obter dividendos políticos.

Festejado pelas empreiteiras, Luciano Pimentel também adotou política agressiva para tentar tomar contas de prefeituras municipais que mantinham negócios no Banese, o banco estadual tão defendido pela população. Foi ele, por exemplo, quem fez acertos com o secretário de Finanças da PMA, Nilson Lima, para tentar receber a folha da prefeitura de Aracaju, que chegou a marcar leilão para a sua definição. A realização do leilão foi proibida pela justiça, mas há recursos em andamento.

O deputado João Daniel, acusado tanto por Valadares quanto por Luciano, de ser o responsável pela mudança no comando da Caixa no Estado, mantém todas as acusações feitas no início de dezembro no plenário da Assembleia Legislativa. Ele denunciou o uso eleitoreiro do Programa Nacional de Habitação Rural, projeto do governo federal destinado à construção de casas populares em áreas rurais e que é coordenado justamente pela Caixa.

Como ressaltou Gilson Sousa na coluna do último domingo, João Daniel frisou que "o caso é muito grave. O Programa Nacional de Habitação Rural é um grande programa que ajuda a fortalecer a sociedade e não pode ser desmoralizado por quem utiliza o cargo para benefícios eleitoreiros, prejudicando a população. É preciso denunciar essa vergonha que é cometida pelo atual superintendente da Caixa em Sergipe, Luciano Pimentel", insistiu João.

Luciano Pimentel, como bem admitiu o senador Valadares, tem 32 anos de serviços na Caixa e já estava há quase seis na superintendência estadual, o que é considerado ‘fora de ordem’ na instituição, onde os superintendentes não costumam passar mais de três anos num mesmo Estado. O novo superintendente Anacleto Grosbelli, que assumiu ontem, era superintendente da CEF no Acre desde março de 2012, ou seja, trocou de Estado antes do próprio prazo estabelecido pela direção nacional da Caixa.

A indignação demonstrada pelo senador parece mais um gesto de defesa e afirmação junto à direção nacional do PSB. Além de um alerta ao governador Jackson Barreto (PMDB), que até agora tinha Valadares como seu principal aliado político. Ao defender Luciano Pimentel, Valadares atacou não só o deputado estadual João Daniel, mas também o deputado federal Rogério Carvalho, que é o novo presidente estadual do PT, que teria atuado em Brasília para a mudança na Caixa.

O senador Valadares estaria tentando excluir o PT da aliança com Jackson para atrair o apoio do DEM do prefeito de Aracaju, João Alves Filho, ou estaria preparando a sua própria candidatura a governador? Ex-governador e senador em terceiro mandato, Valadares não costuma se importar com coisas tão pequenas quanto uma direção de banco. O ataque de agora tem objetivos planejados e que só ficarão mais claros no final do semestre, quando serão realizadas as convenções partidárias que definirão candidatos e alianças.

Política
Em entrevista ao portal Infonet, o ex-superintendente da Caixa em Sergipe, Luciano Pimentel, reforçou o discurso do senador Valadares e disse que a sua exoneração é fruto de uma manobra política articulada pelos deputados petistas Rogério Carvalho e João Daniel. "É uma questão eminentemente política", considerou. "Estou com a consciência tranquila, na certeza do dever cumprido com ética, apenas lamento que usem a questão política para mudar a trajetória que tive, sempre pautada nos princípios éticos e morais", observou.

Resposta
A Executiva Estadual do PT, presidida pelo deputado federal Rogério Carvalho, distribuiu ontem à noite nota em relação a exoneração de Luciano Pimentel da superintendência da Caixa Econômica Federal em Sergipe. Na nota, o PT diz que "é do conhecimento de todos que deputados que compõem a base de apoio e de oposição ao governo do Estado, manifestaram no plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe, da Câmara Federal e nos meios de comunicação e redes sociais, suas insatisfações com a condução operacional da Caixa Econômica em relação ao Programa Nacional de Habitação Rural no Estado de Sergipe".

Sem pressão
A nota esclarece ainda que "em nenhum momento, o presidente do Partido dos Trabalhadores e nenhum membro da executiva estadual mantiveram contato com a ministra Idely Salvatti e com nenhum dirigente da CEF, para tratar sobre substituição de nenhum dirigente deste órgão em Sergipe".
Aliança
E conclui: "Todos sabem o compromisso do Partido dos Trabalhadores com a manutenção da aliança que elegeu o governador Marcelo Déda, o atual governador Jackson Barreto e o senador Antônio Carlos Valadares, em 2010. O mesmo compromisso foi demonstrado e ratificado com o apoio ao deputado federal Valadares Filho do PSB, que disputou a prefeitura de Aracaju em 2012 e obteve 37% dos votos válidos. Isso custou ao Partido dos Trabalhadores a retirada da pré-candidatura vitoriosa nas prévias partidárias em nome da unidade. Portanto, o Partido dos Trabalhadores e seus dirigentes, jamais patrocinariam qualquer ato que colocasse em risco a unidade desse bloco. Devemos esclarecer que não estamos disputando nenhum cargo em órgãos do governo federal. O nosso compromisso é com a manutenção do projeto de unidade que tem ajudado a transformar Sergipe e o Brasil".

Não fala
Rogério Carvalho se recusou ontem a conceder entrevistas para tratar do assunto. Contrariando seu estilo de não deixar nada sem resposta, preferiu que o assunto fosse tratado apenas na fria nota da executiva do PT. O deputado João Daniel concedeu entrevistas e ratificou seu discurso em que denunciou as ações políticas do ex-superintendente da Caixa.

Fogo cruzado
O senador Valadares acabou criando dificuldades para o novo superintendente da Caixa no Estado, Anacleto Grosbelli, que assumiu ontem. Ele não tem nada a ver com a confusão provocada por Luciano Pimentel e o senador e terá que restabelecer a confiança da instituição junto à comunidade. E abrir as portas das agências da Caixa para o povo, que teve acesso reduzido na época de Pimentel. A hora marcada para entrar numa agência vai continuar?

Ditadura
Em maio de 2013, pouco antes de se licenciar para o tratamento de câncer que acabou com a sua morte, o governador Marcelo Déda informou que assinaria o decreto instituindo a Comissão Estadual da Verdade, mas advertia que o alcance dessa comissão seria muito limitado, porque os grandes crimes da ditadura foram cometidos por órgãos de repressão do aparelho federal, a não ser nos grandes Estados, onde foram criados os temidos DOI-CODI, que também eram vinculados ao Exército. Na época, as ações da repressão eram executadas pela Polícia Federal e forças armadas. Déda não teve tempo de criar a comissão, mas a iniciativa será reativada ainda este mês pelo governo do Estado, segundo informações do secretário de Direitos Humanos, Luiz Eduardo Oliva.

Seixas Dória
Na época, Déda disse que ele mesmo pretendia sugerir que a Comissão Estadual da Verdade, assim que for criada, estude os mecanismos legais para propor que a Assembleia Legislativa anistie o governador Seixas Dória, que foi cassado pelos deputados em 1964 logo após a sua destituição pelos militares. Da mesma forma que a Assembleia, através de iniciativa da deputada Ana Lúcia (PT), pretende devolver simbolicamente os mandatos dos quatro deputados cassados durante o golpe – Cleto Sampaio Maia (PRT), Viana de Assis (PR), José Nivaldo dos Santos (PR) e Baltazar José dos Santos (PSD).

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