Por cima da carne seca.
Feito um cometa
Publicado em 29 de setembro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
Quando eu soube de Igor Gnomo, ele já era um gigante, com disco lançado e menções entusiasmadas em publicações especializadas de circulação nacional. Restava a mim bater palmas, igual a todo mundo. O seu trabalho já ganhara a notoriedade possível a um músico instrumentista situado à beira, fora do eixo, ecoava límpido, em alto e bom som.
Para o ente criativo, no entanto, não há trono de ouro onde aquietar o arremate impossível de sua ambição. Gnomo estava por cima da carne seca. Ninguém imaginava, então, que um guitarrista tão competente, presumidamente satisfeito com os próprios feitos, ainda tivesse cartas escondidas na manga.
A criação é um movimento perpétuo. E a guinada observada na discografia de Gnomo atesta uma inquietação genuína. Depois de alcançar o Everest, por assim dizer, dispondo dos acentos e timbres mais caros ao jazz, ele admitiu que o céu era o limite. Desde então, a sua guitarra ganhou em calor e pegada. A inflexão brazuca, adotada a seu modo, deu à música de Gnomo uma qualidade difícil de apreender em palavras, que vai ser traduzida aqui como uma espécie de vibração.
O show ‘Afrontar’ atestou a maturidade do músico, que evoluiu do cafona Smooth Jazz para uma fusão muito interessante com a música brasileira, confirmada depois em belo registro, o álbum ‘Formiga preta’. Aqui, com a colaboração do baixista André Jumper e o batera Thiago Reuel, ele desfia um repertório de composições autorais as mais quentes. Tudo berra, exala e atira. A performance do trio é como uma erupção.
Sim, como todo músico que se preze, Gnomo soube se fazer bem acompanhado e sempre sobe ao palco ladeado por instrumentistas de grosso calibre. No centro de tudo, entretanto, no talo, as seis cordas falam mais alto, com entonação própria – a voz do guitarrista Igor Gnomo.
Esta semana, em breve passagem pela aldeia Serigy, Gnomodá o ar da graça n’A Casa do Mangue, com banda e tudo, além da participação especial da alagoana Suzi Mariana. Sábado, a partir das 20 horas, no bistrô mais elegante e musical da terrinha.